sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Amar é...

Eis que vem o que já foi gestado. O novo. A novidade que é sempre a mesma e, paradoxalmente, outra. Eis que vem a completude. Uma esperança que nunca se cansa de esperar. Contra tudo. Dias melhores já vieram. É preciso apurar o olhar. Enxergar para além da linha. Dar força à entrelinha. O amor já está entre nós.

Eu que sou o outro

A humanidade forma uma linda cadeia em que todas as ações, agressões, alegrias e dores são compartilhadas de uma maneira misteriosa. O efeito de notícias sobre guerras, atentados, vitórias sobre preconceitos e conversões de vida afeta nossa mente e nosso corpo. Carregamos em nós, queiramos ou não, todos estes sentimentos, mesmo os daqueles que nem chegamos a ver pela TV, escutar nas rádios ou ler nos jornais. O reconhecimento deste mistério traz responsabilidade sobre toda a criação, sobre toda a criatura. Eu sou. Nós somos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL

Para todos os amigos que acompanharam o blog este ano, dando 'aquela força' o meu muito obrigada. Que o Natal chegue com muitas bênçãos, paz e alegria e que 2017 traga sucesso e grandes realizações.
Abraços.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A lacuna, em Machado

"Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo." in Dom Casmurro

Para vencer esta lacuna, vivemos. Não que ela poderá ser completamente preenchida. A entrelinha ajuda a ser flexível com as definições. No entanto, há que se imprimir algo de nosso no mundo e, para isso, enfrentamos tormentas e alegrias.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Definições

Lia recentemente em um exemplar do português Jornal das Letras um pensamento - não me recordo o autor, grande falha - de que nada se inventa ou cria, o que se descobre são as definições de tudo que já existe. Gostei. A própria palavra o diz: des-cobrir, tornar visível o que esteve oculto. Definir dá ao indivíduo um certo 'poder' sobre a coisa. Nomear faz com que nos sintamos de certa maneira donos daquele algo. Há também o perigo. Com o nome, vem a responsabilidade do cuidado, da valorização. Que continuemos a definir, sem esquecer de preservar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Desencontro

Zygmunt Bauman em Babel cita, a certa altura, Albert Camus: Eu me rebelo, logo nós existimos.. Ações individuais, seja por expressão de opinião nas redes sociais ou em conversas informais - especialmente com desconhecidos - nas filas de supermercados ou bancos têm-se constituído práticas mais comuns do que a arquitetura de movimentos nas ruas, por exemplo - mais frequentes há vinte ou trinta anos. O encontro pessoal com o outro para reivindicar algo tido como direito ou, em menor escala, para troca de ideias e pensamentos não é tão fácil como o era nos dias em que a tecnologia ainda não consumia nossos dias. As 'opiniões' se sucedem, mas carecem daquele embasamento de quem realmente se debruçou sobre o assunto a ponto de ter dele uma posição convicta. Ideias não são mais trocadas, com frequência. Opiniões são proferidas - por vezes, sem o devido respeito às crenças do outro. Monólogos se multiplicam, esquecidos de que há necessidade do outro para tudo que há em cada um. Sou com o outro. O respeito à diferença passa por aí. Se não reflito com o outro sobre assuntos de cujos temas podemos até discordar, não buscarei progresso pessoal e/ou coletivo. Bauman ressalta que, na 'Babel das opiniões', perdemos tempo precioso de encontro. O que cada um pensa deve ser levado em consideração. No entanto, a partir do momento em que perco o instante da escuta, desvalorizo a troca. Se a 'exigência' para um relacionamento seja que um pense de maneira igual ao outro há uma clara regressão. Os pensamentos divergentes movem, sem necessariamente produzir combate. O pensamento do outro, diferente do meu, faz com que haja constante revisão em mim. Este é o segredo do convívio social.

Insight

Caí
Do chão, a visão
Do infinito:
Sou mesmo um átimo.
No reconhecimento do meu nada,
Levantei.
Começo a viver na fé,
NAquele para quem sou tudo.

O outro

Note:
Estou só
Anote o mote:
A solidão me move.
Sorte?

Encontro o outro
Está só
Anote:
Sua solidão me completa.
Sorte!
Mudo de mote, anote.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Com a pessoa de Pessoa

Ode marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Na memória da retina

Guardamos memórias em fotos, cartas, objetos, mas, o tempo, este inexorável amigo, corrói, deteriora. As retinas, no entanto, vêm em socorro e resgata - às vezes, com custo - lembranças queridas e trazem sabores à boca, perfumes, ao nariz, sorrisos, toques à mente, fazendo-nos reviver instantes como se os ponteiros do relógio combinassem uma pausa restauradora.
Na memória das minhas retinas, tenho de volta a gargalhada de minha mãe em nossa última viagem. A foto, perdida. O som, a efusão do sentimento daquele dia ainda fresco no fechar dos olhos. Acho que prefiro assim. O histórico destas lembranças armazenado no disco rígido da mente amorosa vai comigo para onde eu for. Para sempre.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Para hoje, Manoel de Barros, sempre

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Missing Wilde

Há cento e dezesseis anos, morria Oscar Wilde, deixando um legado que ultrapassou as páginas escritas. Um corpo que foi genuinamente corpus ficcionalizou a existência inaugurando uma nova época para a Arte.
Oscar Wilde surpreendeu com a inovação da vida como verdadeira obra artística. São ainda inúmeros os textos que buscam dar conta de episódios e detalhes que poderiam ou não ser verídicos. O esteta, por certo, sorri. Real ou ficção? Como diria o trocista: o que importa? Vivemos inúmeras vidas na imaginação; imaginamos diálogos e relacionamentos na mente
Aos amigos permitia que o chamassem Oscar.
Os anos de pesquisa sobre a inusitada obra de sua vida me dão a ousadia de hoje dizer baixinho: Saudades, Oscar!

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Fim

. Fim
Começo hoje um novo capítulo. Mas, só se pode começar se algo terminou, não? Pelo menos, se algo terminou em nós. Pois bem...Terminou em mim o medo do sucesso, do insucesso; o medo de estar só, o medo de nunca estar só; o medo de  acomodar, o medo de mudar; o medo de morrer, o medo de viver; o medo de sair, o medo de ficar...
. Fim
Sem medos. Com a fé que me move, remove, comove, pressiona e impulsiona.

Capítulo 1...

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Do que fui

Do que fui restou lição. O que não voltar a dizer, o que não se deve perder, da rapidez do tempo, de quanto avançar, de quanto recuar, do que é ser grande, do que é ser falho.
Cresci e virei menina: que pede ajuda, que volta atrás, que se rende, que abraça com força, que não desiste.
Do mundo espero pouco. Prefiro doar. Das pessoas a minha volta, não cobro, perdoo, socorro; cedo a vez sem escusa. Ganho mais do que perco. Lição de tolerância, lição ultrapassagem de mim.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Mario Vargas Llosa, lúcido

“A boa literatura mantém viva a consciência crítica de uma sociedade.”

Um bom amigo chamou-me a atenção, certa vez, para o efeito curativo do texto literário. Ou deveria, agora eu usar o termo 'paliativo', cujo sentido abrangente me foi elucidado por Leo Pessini. Palium era um manto usado para proteger peregrinos das intempéries. O texto literário nos protege de um real que se quer permanentemente definido, não deixando margens para o 'e se?' E se fosse diferente?; e se eu não tivesse medo?; e se eu me expressasse melhor?.
Vivemos de mudanças, de ajustes, de conversões.=; de começos e recomeços.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Michel Foucault, para hoje

"Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir."

Jane Austen, reflexiva

"Muitas vezes perdemos a possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que então não agarrá-la toda de uma vez?"

domingo, 16 de outubro de 2016

Missing Wilde

Em 16 de outubro de 1854, nascia aquele que se intitularia 'cidadão do mundo'. Oscar Wilde viveu como escreveu: de pura arte. Sua vida foi tão real quanto ficcional, bem a seu gosto. Muito do que se contava sobre ele não se sabia ao certo se era verdadeiro e quando perguntado respondia jocosamente "não seria interessante se tivesse acontecido?". Suas inúmeras máscaras ainda estão por ser descobertas ao longo dos anos. Oscar Wilde ainda é atual e sua escrita tão cotidiana, como dizia Jorge Luis Borges, como se estivéssemos juntos saboreando o desjejum.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Eu primavero

Quando criança, achava conjugação verbal tema difícil e treinava sempre que podia. Depois de muito praticar, punha-me a brincar e 'verbalizar' até os nomes. Hoje vai uma lembrança infantil:Eu primavero, tu primaveras, nós primaveramos...

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Por que não?

E se meus personagens favoritos se misturassem mesmo?
Borges declarou certa vez que temia que à noite as palavras dos livros se embaralhassem e ele não as recuperasse mais pela manhã.
Ouso ir um pouco além e imagino se os personagens pudessem pular de uma história para outra só para experimentar uma nova aventura. Eles teriam, assim, segredos que o autor desconheceria. À noite aproveitariam para se libertar das linhas e pela manhã se encaixariam novamente para delícia dos escritores.
Um encontro secreto de Mr. Darcy e Emma Bovary. Será que ela o seduziria e Elizabeth ficaria só? Talvez não. Mr. Thornton chegaria para consolá-la, encolerizando Margaret. Que tal Dom Quixote abandonando Dulcineia e mergulhando no País das Maravilhas?!
Ahh... Borges. Até que seria divertido!

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A solidão da leitura

A leitura é um ato solitário e, como tal, precisa de tempo de nutrição. O velocidade das informações, a intensidade das redes sociais não incentivam os instantes de ócio criativo - aquele de que nos falavam os artistas de finais do século XIX - que dá espaço á imaginação, ao exercício sereno do pensamento. Sem tempo para uma crítica pautada na análise cuidadosa, caminhamos - ou melhor, corremos - e nos esquecemos cada vez mais de gestar ideias que perdurem, que sejam sólidas como os grandes ideais.
Solitária, leio, agora. Serão poucos minutos de 'vida'. Ouço ruídos, mas insisto em não me apressar. Há tempo. Pois se o tempo não existe, não é, Oscar Wilde?

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Um admirável poeta: Antonio Carlos Secchin

"Não, não era ainda a era da passagem
do nada ao nada, e do nada ao seu restante.
Viver era tanger o instante, era linguagem
de se inventar o visível, e era bastante.
Falar é tatear o nome do que se afasta.
Além da terra, há só o sonho de perdê-la.
Além do céu, o mesmo céu, que se alastra
num arquipélago de escuro e de estrela."


Antonio Carlos Secchin em 2005, escolheu cinquenta poemas´para compor uma coleção de poetas contemporâneos, promovida por Waldir Ribeiro do Val, nas Edições Galo Branco do Rio de Janeiro.
Tive a honra de ser aluna deste memorável autor que, com sua dedicação, buscava a essência da Arte presente em cada um e movia seus alunos ao exercício do texto , tecido vagarosamente, com aquele cuidado de maestria. Obrigada, Professor, Suas lições foram preciosas.

Emily Brontë

"...Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton. é como a folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly Eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho em meu pensamento. Não é como um prazer - por que eu também não sou um prazer para mim própria - , mas como meu próprio ser..."

Um dos trechos mis bonitos da literatura - em O Morro dos Ventos Uivantes -, escrito por uma brilhante mulher do século XIX.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Ainda Barthes e a fotografia

"Assim é a Foto: não pode dizer o que ela dá a ver."

A arte da Fotografia nos leva a reviver a cena: odores, sons e cores. Aquela risada ou a lágrima furtiva vêm à memória tão instantaneamente e tão intensamente quanto ou mais do que na primeira vez.

Roland Barthes e a câmara clara

"No fundo a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa."


Dia 19 de agosto foi instituído dia da Fotografia. Esta arte sempre foi fascinante para mim. Uma maneira de congelar aquele instante querido para sempre. De quando em vez, faço uma visita aos álbuns colecionados ao longo dos anos e viajo no tempo. Aqueles parentes conhecidos que já partiram ou até os que nem chegamos a conhecer; aquela cidade pela qual transitamos fica, de novo, tão familiar. São aromas, ruídos e cores revividos com uma intensidade ainda maior. Esta é a magia que a fotografia evoca.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Love you tenderly

Não foi escritor, mas com a admiração por sua arte escreveu doces linhas de minha adolescência. Amanhã se completarão trinta e nove anos sem Elvis Presley.
Lembro-me bem do momento em que a notícia chegou, em edição extraordinária no Jornal da tv.  Sentada no chão, Eu terminava o bordado de uma toalha para apresentar na aula de Artes no dia seguinte. Deixei o trabalho no chão, fui até o quarto e chorei meus dias de inocente alegria. Foi a primeira pessoa que perdi. Sim, porque era tão meu. Embalada pelas canções traçava histórias em minha imaginação de criança e me apaixonei por um tempo que não vivi. Minha geração já curtia os Stones e eu parara no tempo. Acho que vem daí meu constante exercício de ultrapassagem do tempo na escrita.
Saudades do que Elvis representou por anos.

domingo, 14 de agosto de 2016

Um Cervantes cálido

"A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja."
Miguel de Cervantes                           

Mais de Bilac, hoje, para mim

Ouvir Estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo? "

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac                           

Bilac, singelo

"(A função do poeta)

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o certa vez na rua:

- Sr. Bilac, estou a precisar vender a minha propriedade, que o Senhor tão bem conhece. Poderia, por gentileza, redigir o anúncio para a venda no jornal?

Olavo Bilac apanhou o papel que o amigo lhe estendia e escreveu:

VENDE-SE ENCANTADORA PROPRIEDADE

"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo. Cortada por cristalinas e marejantes água de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

“Meses depois, o poeta reencontrou o comerciante e perguntou-lhe se havia conseguido vender a propriedade”.

- Nem pense mais nisso Sr. Bilac! Quando li o anúncio que o senhor escreveu é que percebi a maravilha que tinha nas mãos.

Às vezes não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longe atrás de Miragens e falsos tesouros. Valorize o que você tem. A pessoa que está a seu lado, os amigos que estão junto a você, o emprego que Deus lhe proporcionou, o conhecimento adquirido, a sua saúde, o sorriso... Enfim, tudo aquilo que Nosso Senhor nos oferece diariamente para o nosso crescimento espiritual.
Olavo Bilac                           

O novo

Assusta,
inquieta,
faz resistir.

Move,
força reação,
tira do conforto.

Transforma,
Forma,
Cria.

sábado, 18 de junho de 2016

A room with a view

Em dias de silêncio, longe das lutas diárias, com o pensamento livre para voos e pousos, a imaginação se insinua e a escrita pede mais uma vez passagem. Seguro para trabalhar e deslizar em paz pela folha de papel, o texto se delineia em cores ainda não descobertas, matizes especiais. Essas são as horas favoritas. Virginia Woolf disse certa vez que para se escrever precisa-se de um quarto com vista (a room with a view). Ela tem razão: no quarto interior a visão é clara, perfeita, sem influências da rotina, do cansaço, do medo.

domingo, 12 de junho de 2016

Amor por Luís de Camões

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

terça-feira, 31 de maio de 2016

Aahh...Pessoa!

'Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Mais Edgar Morin

Apaixonante:


"A compreensão não desculpa nem acusa: pede que se evite a condenação peremptória, irremediável, como se nós mesmos nunca tivéssemos conhecido a fraqueza nem cometido erros. Se soubermos compreender antes de condenar, estaremos no caminho da humanização das relações humanas."
Edgar Morin

Lucidez

"...compreender não só aos outros como a si mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar a autojustificação, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão, que é o câncer do relacionamento entre seres humanos."
Edgar Morin

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sócrates, para hoje

"A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser."

terça-feira, 17 de maio de 2016

O que não é...

O que não é havia de ser o quê? Uma linha, um tom, uma nota, um som. Há de ser o quê? O barulho, o silêncio, o sorriso, o choro; o quê? O que te move? O ser, o ter ? O quê? O que não és? Alguém, outrem, quem? O que não é? Identidade, cara metade, honestidade, dize de ti, o quê? Sou o instante, o semblante, um mutante. O que não és?
Não sou farsante.

sábado, 14 de maio de 2016

Um pouco da claridade de Valter Hugo

“Não sei se a Arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós para que não nos desperdicemos na vida.”
valter hugo mãe, A Desumanização


Deve nutrir-se carinho por um sofrimento sobre o qual se soube construir a felicidade, repetiu muito seguro. Apenas isso. Nunca cultivar a dor, mas lembrá-la com respeito, por ter sido indutora de uma melhoria, por melhorar quem se é. Se assim for, não é necessário voltar atrás. A aprendizagem estará feita e o caminho livre para que a dor não se repita.”
valter hugo mãe, O Filho de Mil Homens

eu acabara de aprender que a vida tem de ser mais à deriva, mais ao acaso, porque quem se guarda de tudo foge de tudo.”
valter hugo mãe, A Máquina de Fazer Espanhóis





sábado, 23 de abril de 2016

23 de abril - Nasce e morre o bardo

William Shakespeare foi destes gênios que a Arte cuidadosamente cultivou que disse mais de nós do que nossos pensamentos ousariam verbalizar. Seus textos escrutinam a natureza humana em seu horror e sua glória. As lutas travadas pelas personagens são a prova inegável de que a observação de Oscar Wilde faz-se mais que correta: o espaço e o tempo são meros detalhes que a imaginação pode e deve ultrapassar. Convivemos com Lady Macbeth, Hamlet, Julieta, Lear num bailado em que se descortinam a vaidade, o orgulho, a ganância, o amor, a esperança e a força de vida. Seu legado encanta gerações e multiplicam-se os admiradores.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

50

Era uma vez uma menina que sonhava ser do Corpo de Bombeiros ou bailarina e é professora. De cada castelo que desenhou nos ares tirou um pedacinho e fez por dentro uma casa muito especial que visitava sempre que se sentia meio deslocada no mundo. Ali, sua imaginação não tinha limites. Tudo, porém, foi ficando tão grande que precisou de ajuda. A caneta e o papel chegaram. A partir daí, seus castelos se tornaram maiores e mais ricos em aventuras.
São cinquenta anos bem vividos de histórias compartilhadas com muitos amigos ao longo das épocas. Ela ainda tem aquele castelo lá dentro. Este é especial e ela visita todo dia para sentir aquele aconchego dos primeiros dias.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O que não é

"Contento-me com pouco, mas desejo muito."
Miguel de Cervantes


O que nos move é um imenso desejo pelo que ainda não é. O dia que ainda não chegou, aquela nova oportunidade de emprego, aquele amanhã será melhor. Essa insatisfação resulta em criatividade, mudanças, progressos quando não cega para o presente. Escrever uma nova linha hoje já traz o amanhã.

sábado, 2 de abril de 2016

Para o dia do Livro Infanto Juvenil- Mãos encantadas

Era uma vez um par de mãos que, ao sulcar a folha de papel com sua caneta, abria espaço para um encantamento de refúgio. Guardados naquelas páginas estavam sonhos sempre prontos a despontarem - tão logo o livro fosse aberto. Isso, era um escritor. Dessas pessoas especiais que descobrem o segredo da gente sem nunca ter-nos encontrado. 'O sapo e o poço' impressionou meus olhos de maneira inequívoca. Era adulta e estava ali, desnudados pensamentos que nutria de criança. Foi o mesmo com o 'Livro do medo'. Foi, ao mesmo tempo, assustador e lindamente revelador. Abri para voltar a ser criança e as páginas me conduziram a uma adulta um pouco melhor.
Julio Emílio Braz, neste dia tão especial dedicado aos apaixonantes livros, minha singela homenagem e meu agradecimento.

sexta-feira, 18 de março de 2016

A lucidez de Rui Barbosa

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.


Que isso não aconteça à nossa nação.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Para o dia da Poesia, nosso Castro Alves

"Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!"



Ahh...se todos pensassem como você...Que maravilha viver...Verdade que muitos não veem...
Hoje, nossa humilde homenagem ao grande Castro Alves.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Meu lugar imaginário favorito

Um desafio foi apresentado a poetas e ficcionistas pelo Jornal da Letas, edição portuguesa, quando da publicação do 'Dicionário de lugares imaginários' de Alberto Manguel: escolher o seu favorito e apresentar as razões.
Tarefa difícil para leitores apaixonados. Visitei muitos lugares e minha imaginação de criança e adolescente desenvolveu-se a partir das imensas possibilidades que estas terras estranhas proporcionavam a seus visitantes. Apresar de Leônia, Nárnia, Lilliput, e tantos outros, ainda escolho o Pais das Maravilhas. Deixo-me perder por entre as Alices: altas, magras baixas, gordas, meu duplo. Alice e seus amigos até hoje me fascinam com palavras desconcertantes como 'se não sabe para onde quer ir, que importa o caminho a seguir?'. Eles me instigam, me exigem escolhas, desvelam meus lados claros e sombrios.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Vita Nuova II

"Se quero viver, devo esquecer que meu corpo é histórico, devo lançar-me na ilusão de que sou contemporâneo dos jovens corpos presentes, e não de meu próprio corpo, passado. Em síntese; periodicamente, devo renascer, fazer-me mais jovem do que sou."  Roland Barthes in Aula

À  medida que os anos passam, entendo ainda mais esta passagem do belíssimo texto. Se não renascermos dia a dia, se não abraçarmos como novo o rotineiro, envelheceremos. Barthes teceu mais uma vez em mim o desejo de ser outro.

Aula de Barthes

 "Um escritor — entendo por escritor não o mantenedor de uma função ou o servidor de uma arte, mas o sujeito de uma prática — deve ter a teimosia do espia que se encontra na encruzilhada de todos os outros discursos, em posição trivial com relação à pureza das doutrinas (trivialis é o atributo etimológico da prostituta que espera na intersecção de três caminhos). Teimar quer dizer, em suma, manter ao revés e contra tudo a força de uma deriva e de uma espera. E é precisamente porque ela teima, que a escritura é levada a deslocar-se. ".

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A sabedoria de João

"A gente escreve por excesso de ser ou por falta de ser ..."

João Cabral de Mello Neto

Está certo o nosso João. Se não se escreve falta. Falta a história, falta a tradição, falta a prosa, falta a poesia, falta o sonho, falta o medo, falta a coragem, falta a graça.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Quem é eterno para você?

"Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno."
Machado de Assis

Muitas pessoas são eternas para nós. Vivem e revivem em cenas na memória. Fazem-nos rir, chorar. Deus nos deu a graça de termos no centro do coração para sempre tudo e todos que nos foram caros.

Meu lugar

Pensava cá comigo se cada um teria um lugar assim como eu acredito que tenha. Não sei se me entende... Um lugar onde pode sempre se refugiar, em silêncio. Um lugar onde ninguém pode estar, a não ser com sua permissão. Onde há cores e sons únicos, seus. Encontrei-o em muitas ocasiões nas páginas daquele livro favorito ou no momento dos olhos fechados, só, no quarto. Uma canção ajudou também a que viesse mais rápido. No transporte público, é um desafio que tento há anos...consegui algumas vezes. Deixo-me ficar...Ser...

Vita nuova

Acordou e era outro
Não na aparência exterior, mas..., outro.
Pensava diferente, olhava de outra forma, até sua respiração estava ritmada

Brincava com a colher de café
As mãos pareciam ágeis
Sentia-se tão jovem!

O dia estava convidativo
A câmera estava bem ali.
Queria destacar o que pudesse e eternizar tudo
Para aquele dia

O dia de sua decisão
Por algo mais.
Por uma existência mais significativa.

Saiu.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Uma alegria nova: Oscar Wilde- corpo mascarado de alegria nietzschiana



                  
                              Queridos amigos,

 quando a NeA Edições me contactou no ano passado interessada na publicação de minha tese de
Doutorado, defendida em 2009, fiquei muito emocionada. Dessas emoções que só a gente e Deus
sabem no fundo o que significam. A luta, às vezes as decepções, incompreensões ficam todas para
trás. Pois bem, aí está comercializada pelo www.morebooks.de. Agora em português e em três anos
traduzida para 40 países. Alegria, a gente não guarda, espalha. Para todos os que acompanham pelo
blogue e pela vida,meu muito obrigada. Quem escreve, escreve sempre para alguém. Que os leitores
possam aproveitar das palavras que foram gestadas por 4 anos e nasceram do coração.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Sobre o poder das mãos

A MÃO AO ASSINAR ESTE PAPEL

 A mão ao assinar este papel arrasou uma cidade;
cinco dedos soberanos lançaram a sua taxa sobre a respiração;
duplicaram o globo dos mortos e reduziram a metade um país;
estes cinco reis levaram a morte a um rei(...)
A mão ao assinar o tratado fez nascer a febre,
e cresceu a fome, e todas as pragas vieram;
maior se torna a mão que estende o seu domínio
sobre o homem por ter escrito um nome.

Os cinco reis contam os mortos mas não acalmam
a ferida que está cicatrizada, nem acariciam a fronte;
há mãos que governam a piedade como outras o céu;
mas nenhuma delas tem lágrimas para derramar.


Dylan Thomas chama a atenção para a responsabilidade das ações, na escrita, na palavra falada, nos gestos diários e como nossos dedos podem realizar o bem ou o mal num instante apenas.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

'Café literário' ; 'Saudades de mim' e 'Eu, Paulo M., personagem de Kafka'

Olá amigos, desejo a todos um excelente 2016.

Se me derem o prazer de de conferir no site www.amazon.com os contos 'Saudades de mim' e 'Eu, Paulo M., personagem de Kafka, penso que não se arrependerão.

O livro 'Café literário com Wilde e Nietzsche' continua a venda no site da editora Scortecci: www.scortecci.com.br.

Forte abraço.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

No calor do inverno

Sempre tive simpatia pelo inverno. Muitos são os que se queixam dos dias mais sombrios, das chuvas. Penso, porém, que há um calor diferentes nesses dias gélidos. As pessoas parecem que se olham mais. Há sempre um comentário sobre as baixas temperaturas, sobre como o frio as afeta ou como se fica 'elegante' nas roupas da estação. Há rituais, dizem os amigos, na aproximação desses dias. Os agasalhos guardados são cuidadosamente escolhidos para o aquecimento do corpo, sim, e para aquela sensação de conforto que traz o tecido.
Pela primeira vez em muitos anos, voltei ao inverno europeu e revivi a maciez dos dias chuvosos, a ternura dos chapéus, o acolhimento das luvas. Vesti-me de um brilho outro - cálido, convidativo, novo. E vi-me personagem outra vez.

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...