quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Encontro de mim

Eu me perdi de mim
Numa dessas esquinas sem dó
E aceitei por destino
Não ter pouso
Sem medo de estar só

Sem expectativas
Caminho como que para lugar nenhum
Conheci gente como nunca vi
Olhos cerrados que tinha
Agora vêem além do comum

O passo é lento
No compasso de um tempo outro
Novo
Sem cansaço

Sorriso largo
Sigo sempre em frente
E...
Surpresa
Eis meu verdadeiro eu

domingo, 24 de agosto de 2014

BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO: CAFÉ LITERÁRIO, UM SUCESSO!

Amigos, agradeço a torcida e a presença dos amigos que partilham desta alegria comigo. Abaixo, fotos do evento.







Uma alegria!

Conto de um leitor viajante – Stella Maria Ferreira


PLC-2014-PROSA / 1º lugar – contos avulsos
Conto de um leitor viajante
As férias chegaram. De tão cansado, não planejara absolutamente nenhuma atividade. A ideia do deslocamento, no entanto, me perseguia há cerca de uma semana. Lembrei de Baudelaire e de sua visceral necessidade de estar onde não estava, de viajar para os lugares mais distantes, de geograficamente esquivar-se de pensamentos que naquele instante de repouso pareciam ameaçadores. Estava inquieto. Não que isso fosse estranho. Eu era naturalmente inquieto. Seriam os livros que sempre tinha à mão? Era o que a mãe repetira por toda a minha adolescência. Dizia que estava sempre ‘no mundo da lua’. Eu me irritava e gritava que era poeta das idas e vindas; era artista. Ela ficava ainda mais nervosa. Era o feijão…e eu, o sonho. E sonho ‘não se colocava na mesa’, dizia. É…hoje trabalho num escritório de advocacia e a poesia ficou de lado. Momentos de inquietação como os desta manhã, porém, lembravam-me de mim. Antes. Quando tudo era poesia e eu me deslocava om facilidade para onde queria em minha mente. Peguei o caderno de anotações que estava na cabeceira e escrevi: “Escapar para me encontrar. Viajar para saber de mim.”.
Troquei de roupa. `A saída, o porteiro me perguntou algo sobre meu retorno – haveria manutenção do sistema de gás naquela tarde. Desculpei-me dizendo ser difícil marcar o horário da volta. Pediria uma outra visita para o apartamento se houvesse desencontro. Como saberia da volta se não sabia para onde iria? Queria a poesia da incerteza, a rima do desengano, o verso do talvez. Não sentia receio algum. Queria respirar aquele ar amorosamente artístico uma vez mais.
Era um barzinho simpático. Pedi café e biscoitos enquanto lia algumas dezenas de prospectos de viagens, passeios e produtos à venda colecionados ao longo do ano. A ilha parecia convidativa. Sorri ao lembrar de Alan de Botton e a descrição de suas férias numa ilha paradisíaca em A arte de viajar. Não seria uma má ideia fugir para outros ares. O aroma do café fez com que eu fechasse os olhos e, então, lá estava eu chegando na ilha. As malas sendo trazidas para o imenso quarto.
Uma porta dava saída direto para uma linda praia. Sentei-me na areia morna. O som alto das gaivotas, que pareciam brincar, era encantador e repousante. O vento assobiava o texto que eu ansiava escrever. “A nota da vida incompleta aguarda o acorde na dependência do próximo passo. A força de ousar. Sem a escolha de parar. Sem o medo no olhar. A carne na pena. O sangue na tinta. Poesia pronta.”.
Abri os olhos e o caderno de notas estava na minha frente, sobre a mesa do barzinho e as palavras que eu ouvira na ilha do panfleto ali escritas. A arte me encontrara. A procura durara anos e ela foi perseverante e fiel.
Fui para casa. O porteiro perguntou-me se o passeio fora bom e eu disse ter sido a melhor viagem da minha vida. O Des Esseintes de Huysmans sentado num café viajou para Londres. E eu, para uma ilha. Pares na arte. Pares na vida.
Síntese biográfica:
Stella Maria Ferreira é Mestre e Doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ. Conta com cinco artigos publicados em livros; uma resenha publicada na Revista ‘Poesia Sempre’ da Fundação Biblioteca Nacional e um livro recentemente publicado, intitulado ‘Café literário com Wilde e Nietzsche’. Atua como professora de Inglês na Rede Municipal do Rio de Janeiro.

24 de agosto- data do nascimento de Borges

"Longe um trinado.
O rouxinol não sabe
que te consola.".


                     Jorge Luis Borges nasceu em 24 de agosto de  1899 e as palavras tomaram um tom novo, mágico. Este também foi o dia emblematicamente escolhido por mim em 2004 para apresentar minha dissertação de Mestrado.
                      O texto borgiano sempre teve em mim um efeito de inquietação e quando li, na pesquisa, que ele se hospedara no mesmo quarto de Hotel em Paris onde Oscar Wilde morreu soube que diante de mim estava a escrita de alguém singular. Seu texto consola, move, comove, surpreende, arrebata.
                      Mais um pouco dele:
 
"Calam-se as cordas.
A música sabia
o que eu sinto.'.
 
                     

domingo, 17 de agosto de 2014

Conselhos de Fernando Pessoa

Conselhos de Vida
         

1 - Faça o menos possível de confidências. Melhor não as fazer, mas, se fizer alguma, faça com que sejam falsas ou vagas.
2 - Sonhe tão pouco quanto possível, excepto quando o objectivo directo do sonho seja um poema ou produto literário. Estude e trabalhe.
3 - Tente e seja tão sóbrio quanto possível, antecipando a sobriedade do corpo com a sobriedade do espírito.
4 - Seja agradável apenas para agradar, e não para abrir a sua mente ou discutir abertamente com aqueles que estão presos à vida interior do espírito.
5 - Cultive a concentração, tempere a vontade, torne-se uma força ao pensar de forma tão pessoal quanto possível, que na realidade você é uma força.
6 - Considere quão poucos são os amigos reais que tem, porque poucas pessoas estão aptas a serem amigas de alguém. Tente seduzir pelo conteúdo do seu silêncio.
7 - Aprenda a ser expedito nas pequenas coisas, nas coisas usuais da vida mundana, da vida em casa, de maneira que elas não o afastem de você.
8 - Organize a sua vida como um trabalho literário, tornando-a tão única quanto possível.

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...