sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O colecionador - breve conto


                                 Coleciono lembranças. Acho que estou mesmo envelhecendo. São selos, miniaturas, fotos, canecas, chaveiros, relógios, tudo de minhas inúmeras viagens. Coleciono imagens gravadas nas retinas cansadas - como as de a Drummond. Tantas pessoas, lugares marcantes, coloridos que se misturam na memória - esta caixa surpreendente que guardamos em nós. Passo horas dos meus dias na companhia agradável das lembranças. Não me sinto só: convivo com muitos rostos, perfumes.
                              Sinto-me afortunado e, como Pablo Neruda, confesso que vivi.

30 de janeiro- dia da Saudade

                           Temos saudade de muitas coisas. Do que fomos quando crianças; do que poderíamos ter sido e, acredito, saudade do que ainda virá e logo será também passado.
                           Temos saudades das pessoas que se foram, coma as quais tivemos o privilégio e honra de conviver e aprender. Temos saudades antecipadas dos que com nós convivem no hoje.
                            Ouvi uma vez de um homem humilde em Belém a seguinte afirmação, que julguei perfeita: Saudade é a falta de algo ou alguém que nunca nos saiu do coração. Ele acreditava ser de um poeta famoso, mas não se lembrava do nome.
                             Tenho saudades da escrita que não fiz e até da que  fiz e já não pode mais me oferecer aquele impacto do processo de realização.
                             Saudade: palavra pequena e grandiosa.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

'Café literário'

CAFÉ LITERÁRIO COM WILDE E NIETZSCHE / Stella Maria Ferreira
Café literário com Wilde e Nietzsche é uma homenagem a dois expoentes do século XIX, cujos textos, repletos de uma incontestável paixão pela vida, evidenciam uma comunhão de ideias que prescindiu a leitura dos textos. Wilde não foi leitor de Nietzsche. Nietzsche não foi leitor de Wilde. O círculo que  os uniu, no entanto, extrapolou o limite das páginas, fazendo com que caminhassem juntos numa espiral que revolucionaria o pensamento artístico. O diálogo ficcional aqui desenhado passeia pela escrita determinante destes dois poetas da existência.

Stella Maria Ferreira é graduada em Português-Inglês, pela UFRJ, com Mestrado e Doutorado em Ciência da Literatura, pela UFRJ. Possui diversos artigos publicados em revistas eletrônicas e impressos pelo Departamento de Ciência da Literatura pela Faculdade de Letras da UFRJ. Autora de ensaios publicados nos seguintes livros: O labirinto finissecular e as ideias do esteta (2004), Dândis, estetas e sibaritas (2006), Corpos letrados, corpos viajantes (2007), Fulgurações (2009) e Faces rituais da poesia (2010); e da resenha Corpus errante na Revista Poesia Sempre (2009). Foi premiada com o primeiro lugar no Concurso de Redação para Professores pela Academia Brasileira de Letras e Folha Dirigida em 2005. Atualmente, atua no magistério do município do Rio de Janeiro.
Blog:
www.nateiadaliteratura.blogspot.com 

Serviço:
Café Literário com Wilde e Nietzsche
Stella Maria Ferreira
Scortecci Editora
Literatura
ISBN 978-85-366-3476-0
Formato 12 x 18 cm
52 páginas
1ª edição - 2013

Borges, uma vez mais

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a desvanecida
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Servem-nos, como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos em um momento.


As coisas

Virada

                                            Parou na esquina
                                            Pensava no lado a seguir
                                            Direita - progresso ou retrocesso
                                            Esquerda - alegria ou fantasia

                                            Parou na esquina
                                            Sentou-se
                                            Abriu o livro

                                            Esqueceu-se do porquê estava ali.

Uma manhã...Drummond

"Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.".


Que todos possamos escrever nossa história e ver as coisas sob diferentes prismas.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

'What's in a name?'

                      Em Romeu e Julieta', há a cena em que Romeo vê esta bela donzela pela primeira vez e se apaixona. Um amigo diz da rivalidade entre as famílias e que este amor seria impossível. Romeu, então, declara "What's in a name? A rose by any other name would smell as sweet.".
                      A necessidade de nomear as coisas é inerente ao ser humano. Quando não encontramos palavras que expressem nossos sentimentos ou pontos de vista de certa forma nos desequilibramos. O nome concede sentido e acalma por isso. No entanto, quantas não são as emoções para as quais não encontramos palavras, tristes ou alegres. Um sorriso ou uma lágrima traduzem melhor o que vai no coração. Uma rosa não seria mais bela ou teria um perfume mais marcante se tivesse um nome diferente. Shakespeare captou como ninguém o quanto nos importamos , às vezes, em nomear o que não tem nome. Mais uma vez, há a prova de uma obra imortal.
                     

201 anos de 'Orgulho e Preconceito'


                A primeira vez que li 'Orgulho e Preconceito' fiquei encantada com a fluidez da escrita desta surpreendente Jane Austen que quebrou padrões no século XIX para viver seu sonho e de seu sonho. Suas personagens femininas são fortes e não fogem de diálogos irônicos, repletos de sagacidade.

                Abaixo saborosos exemplos.


Elizabeth: Eu me pergunto quem descobriu o poder da poesia para espantar o amor.

 Darcy: Achei que fosse o alimento do amor.

 Elizabeth: Do amor belo e vigoroso. Mas se é apenas uma vaga inclinação, um pobre soneto o liquidará.


Darcy: - Em criança ensinaram-me o que era certo, mas não me ensinaram a corrigir meu gênio.

Grande Pessoa



" Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Contos de um leitor voraz V


Tinha de entregar uns papéis do último acordo do outro lado da cidade. Nunca ia lá – não é força de expressão; nunca ia lá mesmo! O gerente insistira para que eu usasse o caro da empresa, mas decidi pelo ônibus. As voltas que o transporte público dá possibilitam a um curioso como eu deleitar-se nas cores e imagens diversas. Estava quase chegando, eu pensava. Foi então que em uma das muitas curvas, entramos numa rua em que se enfileiravam construções antigas e muito similares aos cortiços de fins do século XIX. Dei o sinal para parada e desci, meio fascinado pelo lugar. Parecia que eu adentrava os domínios do João Romão. O cortiço de Aluísio Azevedo estava ali – as lavadeiras, os gritos, as risadas, um frenético desfile de aromas e sons. Encantadora aventura. O tempo cessara de exercitar-se em anos, horas e minutos e eu aproveitava esta dadivosa experiência. Meninos descalços lutavam com a ‘bola’ de lata, enquanto meninas em vestidos de chita, sentadas nos degraus dos casebres, brincavam com desbotadas bonecas de pano. Os olhos marejaram. O ritmo que minha vida adquirira, ou melhor, as escolhas que eu fizera deixaram no esquecimento a luta cotidiana de tantos.

Isto precisamente não se modificara. Algumas necessidades permaneciam as mesmas. E a necessidade maior – a da felicidade, da realização pessoal – ainda estava lá. Uma menina olhou-me e sorriu, tímida. Esticou-me a boneca e disse:

- É a Didi. Pode pegar.

Recebi-a nas mãos. Não tinha um olho, mas o semblante era incrivelmente real e aconchegante.

- Eu sabia que a Didi podia ajudá-lo. Está perdido?

- Não...Acho...Talvez...Penso que sim.

Ela sorriu, divertida.

- Leve a Didi. Ela ajuda você a encontrar...bem, a encontrar o que você quiser. Adeus.

Deixou-me em carreira. Instintivamente, abracei a boneca e parti. Ganhei a rua que parecia ser a de entrada do cortiço. Chamei um táxi. Entreguei os documentos no endereço pretendido. A boneca causara um certo estranhamento nos colegas, mas não me preocupei em explicar. Quando cheguei à casa, sentei-me olhando bem para Didi. Ela existia mesmo. No trajeto de volta ainda duvidara do ocorrido naquela tarde, mas Didi estava mesmo ali. Pensava agora nas enigmáticas palavras da menina. No que poderia Didi me ajudar? Eu não sabia que precisava de ajuda. Ou sabia? Olhava fixo para Didi – aquele sorriso desbotado me incomodava um pouco agora. Ela sabia que eu não estava satisfeito no trabalho. As longas horas no escritório e plantões nos finais de semana afastaram-me da família. Não via minha mãe há cerca de dois anos. Que saudade daquele cheiro de sua cozinha sempre cheia de guloseimas para quem chegasse. Havia recebido oferta de um amigo para trabalhar em uma empresa um pouco menor, mas com um horário atraentemente fixo. O sorriso de Didi pareceu-me mais nítido. Peguei o telefone. A suave voz emocionou-me.

- Mãe, sou eu.

- Filho, sabia que você ligaria. Tive um sonho estranho com uma menina esta noite...

- Conte-me amanhã. Vou vê-la, certo?

- Que bom?

Ela chorava muito. Despedi-me. Liguei para o Carlos e marquei entrevista para segunda-feira. Senti um alívio; estava leve mesmo. Olhei para a cadeira onde deixara Didi. Não estava mais lá. Não me espantei.

Contos de um leitor voraz IV


Acordei sobressaltado. Olhei o relógio: duas horas. Levantei e tomei um copo d’água. Sentei-me já quase certo da insônia. Ao menos duas vezes na semana era acometido deste mal. Hoje, porém, decido que farei disso um bem. Vesti-me rapidamente, pus o caderno de notas no bolso e saí. Ao passar pelo corredor, olhei de relance para o espelho. Meu rosto não parecia abatido. Muito pelo contrário, parecia que eu havia rejuvenescido.

A brisa agradável foi um alento para minha mente conturbada. Fiz sinal para um táxi e rumei para o centro da cidade. Os bares ainda estavam lotados e algumas pessoas dormiam nas calçadas. De modo geral, no entanto, o silêncio insistia em imperar. Dentro da noite, mais uma vez, lembrei-me de João do Rio e busquei escrutinar cada vela e recanto à procura – de quê não sabia ao certo; o tempo diria. Se mistério não houvesse, criaria. Afinal, em mim estavam histórias que pululavam no anseio por vida.

Senti que alguém me seguia; olhei para trás e percebi um vulto. Havia uma neblina estranha e só pude discernir o que parecia ser um chapéu. As batidas do coração aceleraram, assim como o meu passo. Tive dificuldades de caminhar por que a neblina se tornara densa, de súbito. Ainda conseguia ouvir os passos atrás de mim. Virei em duas ou três esquinas, sem saber mais onde estava; tinha perdido toda a referência. Senti uma vertigem e apoiei-me nas paredes e muros. Não podia mais. Parei e entreguei-me à sorte. O som dos passos tornou-se mais límpido. Senti a respiração do estranho próxima de mim.

- O senhor deixou cair este caderno ali atrás. Aqui está. Boa noite.

Sentei-me na calçada, permitindo que o suor descesse pelo rosto e corpo livremente. Tomei o caderno e escrevi: “Fui perseguido por meus medos e anseios. Estava envelhecendo e isso era assustador. Gostaria de ser jovem para sempre como Dorian Gray. Oscar Wilde havia penetrado minha noite – o tempo passara e eu me reconhecia finito.”.

Levantei-me e busquei um ponto de táxi. Ao chegar à casa, deitei na cama com a roupa que estava e dormi por dois dias inteiros. Quando acordei, havia vários recados na secretária eletrônica. Retornei todas as chamadas. Tomei um banho. A partir deste dia, nunca mais tive insônia.

 

Cecília Meireles, bom dia


 Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida, ...

fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

domingo, 26 de janeiro de 2014

Pessoa em Álvaro de Campos

Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

sábado, 25 de janeiro de 2014

HOJE

"Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia suficiente para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos.
Uma só idade para nos encantarmos com a vida para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que podemos criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a disposição de tentar algo de novo e de novo quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do instante que passa.."
  Mario Quintana


Boa forma de começar o dia.

Um pouco de Somerset Maugham

"A arte, um dos grandes valores da vida, deve ensinar aos homens: humildade, tolerância, sabedoria e magnanimidade."


Uma página literária por dia: antídoto para o mau-humor, para a tristeza.

Lembrando o nascimento de Virginia Woolf

"(...) when you asked me to speak about women and fiction I sat down  on the banks of a river and began to wonder what  the words meant. They might mean  simply a few remarks about Fanny Burney,; a few more about Jane Austen; a tribute to the Brönte sisters(...)But at second sight the words seemed not so simple(...)All I could do was to offer you an opinion about a minor point(...)and that, as you will see, leaves the great problem of the true nature of woman and the true nature of fiction unsolved(...)".


Em A room ofone's own,Virginia Woolf elegantemente discorre sobre a luta diária das escritoras para a realização a atividade que mais as agradava: escrever. Para tanto, precisavam de dinheiro e, para ela, de um aposento só para si. Para o encontro com suas história e seus personagens; sem interrupções, sem influências externas. Nesta série de palestras para  a Arts Society, Woolf disseca toda a sensibilidade de mulheres pioneiras. Boa dica e leitura.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Um sonho de trem

             Comentando De Quincey, Roland Barthes diz em O neutro:  "uma coisa conhecida do sonho é que ele contrai o tempo(...)nele se insere toda a cena." - o que me fez lembrar da estupenda viagem de trem que fiz esta noite. O vagão tinha lindas e confortáveis poltronas vermelhas e da janela eu podia ver uma paisagem com  montanhas de pedra e um verde que contrastava com o amarelo de minha alegria. Neste sonho, eu não parecia saber para onde ía, mas não fazia diferença. O encanto do deslocamento fez com que eu acordasse renovada.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Da imortalidade

            O que faz a obra de um autor ser considerada imortal? O que é dito ou mostrado ou o que o leitor enxerga nas entrelinhas? Qual é a intenção do autor? Congregar, dividir, confundir, clarear, atacar, defender, ser armadilha ou refúgio.
           Ao longo dos anos foram diversas as obras literárias que me dilaceraram e me recompuseram. Em todas, de alguma forma, vi algo de mim - do meu lado obscuro, do meu lado carinhoso. Quando releio um texto, depois de passado algum tempo, a impressão muda, como eu mudei. Um detalhe é magicamente descoberto e o texto se torna outro, mais uma vez.
            Para mim, a imortalidade de um texto está aí: na sua capacidade de renovação a cada leitura. Renovação no leitor, na sua visão do mundo e das pessoas a seu redor. A literatura fez e continua a fazer muito por mim. Wilde, Carroll, Borges, Cervantes, Salinger, Auster, Jane, Machado, Drummond e tantos outros falam e continuam a falar de mim.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Uma tarde com Foucault

"Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir.''


A perspectiva é o segredo. Olhar mais uma vez; evitar pré-concepções e pré-conceitos  dando uma chance a quem pensa diferente de nós. Ouvir, mais uma vez é a chave.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Uma lição do Pe. Antônio Vieira

"O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido. quem ama, ...para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, só esse é fino.". in Sermões

domingo, 19 de janeiro de 2014

Gente

                       Na cadência das inúmeras palavras e frases desconexas porque entrelaçadas, misturadas, fecho os olhos ali, no assento do metrô. No balanço do vagão ruidoso tento adivinhar os dramas e sonhos de cada um dos viajantes. À minha direita uma voz feminina conta uma discussão do dia anterior. Os tons alto e baixo se alternam, a música é inconstante e diz da emoção do tema. Resisti à tentação de abrir os olhos e ver suas feições, confirmando a conclusão. Continuei, divertida. Um menino atrás repetia uma história contada pela professora na escola. Voz aflita, cheia de vontade de agradar e prender a atenção do ouvinte. O contentamento parecia tão grande que a historinha não poderia ter fim. Era uma fala repleta de 'aí', 'então', 'e...'. Sorri. Minha estação acabava de ser anunciada. Abri os olhos e me misturei à outra multidão. Mudada. Admirada. Encantada.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Wilde

Keep love in your heart. A life without it is like a sunless garden when the flowers are dead.


Para que nunca nos esqueçamos do essencial.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Shakespeare, motivador

"Ouve opiniões, mas forma juízo próprio."

                                             Hamlet- ato I, cena III




A leitura ajuda na formação do pensamento crítico, além de nos tornar mais compreensivos e atentos.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Meditando com Nathaniel Hawthorne

"Palavras - tão inocentes e impotentes elas são enquanto imóveis em um dicionário, quão poderosas para o bem e o mal elas se tornam nas mãos de quem sabe como combiná-las.".

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Palavras de Alexandre Herculano

"O amor do poeta é maior que o de nenhum homem; porque é imenso, como o ideal, que ele compreende, eterno, como o seu nome, que nunca perece.".


O exercício da arte da escrita ou de qualquer manifestação criativa amplia a explosão de sentimentos.


"Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender.".

Sábio conselho.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Como Alice - Lembrando Lewis Carroll

                         Posso ser grande ou pequena, larga ou estreita, loura ou morena, com  olhos azuis ou negros. A leitura de Alice me garantiu isto e minha infância ficou ainda mais mágica. A profundidade deste conhecimento de minhas múltiplas personalidades acompanhou-me anos a fio e, espero que a muitos que convivem comigo ou comigo nos textos. Sem saber bem para onde ir, Alice indicou muitos caminhos; perdendo-se ajudou muitos a acharem a chave escondida de sua imaginação - passaporte para aventuras mil.                  
                         Lembro-me de Carroll com carinho e gratidão.

Pablo Neruda, com amor

Se
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Seja um arbusto no vale mas seja
O melhor arbusto à margem do regato.
Seja um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, seja um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Seja apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, seja uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas seja o melhor no que quer que sejas.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Com a palavra, Paul Auster

"A literatura é essencialmente solidão. Escreve-se em solidão, lê-se em solidão e, apesar de tudo, o ato de leitura permite uma comunicação entre dois seres humanos."

"É apaixonante ver como o trabalho realizado em solidão se transforma numa experiência partilhada com muitíssimas pessoas que convergem num mesmo ponto."


Milhares de leitores unidos pela arte.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Food for thought - Emily Dickinson


A thought went up my mind to-day
That I have had before,
But did not finish,--some way back,
I could not fix the year,

Nor where it went, nor why it came
The second time to me,
Nor definitely what it was,
Have I the art to say.

But somewhere in my soul, I know
I've met the thing before;
It just reminded me--'t was all--
And came my way no more.

Pensamentos vêm e vão. E com eles, nossos sonhos e realizações.

Amor, por Emily Brönte

"...Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton. é como a folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly Eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho em meu pensamento. Não é como um prazer - por que eu também não sou um prazer para mim própria - , mas como meu próprio ser...".

Para mim, uma das mais belas páginas da literatura que  traduz pelas palavras um amor eterno.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Wilde e Nietzsche

"W: Sabe, amigo, tem havido em literatura uma tendência a dirigir-se cada vez mais aos olhos e cada vez menos ao ouvido, o que em arte literária pura não deveria ocorrer...Os gregos consideravam a arte de escrever como simplesmente um meio de contar. Sua prova era sempre a palavra falada em suas relações musicais e métricas..."

N: Não posso perder a ocasião para o exercício da etimologia. Melos (melodia) significa meio de apaziguamento, não porque o canto seja suave em si próprio, mas porque os seus efeitos ulteriores acalmam...Nosso canto ainda está ferindo os ouvidos de nossos contemporâneos.".


(fragmento de Café literário com Wilde e Nietzsche)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Contos de um leitor voraz III


A reunião se arrastava com a sequência estatística que eu havia lido há duas semanas. Brincava com o lápis na mesa, ao mesmo tempo que lembrava das palavras de D. Maria no dia anterior:  - O senhor precisa comprar feijão. A despensa está ficando vazia. Vou fazer uma lista, mas de pronto preciso de feijão.

Feijão, ora. Sabia que precisava do feijão. Às vezes, porém, o feijão consumia-lhe as forças; exigia demais dele: toda a sua atenção. Ali estava ele, na sala de reuniões... pelo feijão. O que queria mesmo era um pouco de sonho. Só para devolver-lhe um tanto da energia de que gozava quando jovem. Alguns instantes seriam suficientes. Subitamente, o alarme de incêndio soou estridente. Meu colega cochichou-me aos ouvidos: - Não se assuste, é treinamento. A Brigada dos Bombeiros exigiu e propusemos o dia de hoje. Lá se vão trinta minutos pelo menos.

Trinta minutos. Era o suficiente. Desci as escadas apressadamente e cheguei logo à rua. Nunca aquela rua pacata parecera tão encantadora. Fechei os olhos por alguns segundos e quando os abri vi um imenso labirinto e todos os homens e mulheres da empresa passando por suas curvas como a procura de sápida. Eu, espectador, enxergava claramente o ponto de chegada e o caminho que deveria ser percorrido. Ri porque, diferente de Teseu, não precisaria do fio de Ariadne. As escolhas erradas dos indivíduos, no entanto, desesperavam-me. Comecei a gritar feito louco:

- À direita, você. Não, você de camisa azul, À direita. Não!

Não pareciam me ouvir. Na verdade, não pareciam incomodados em circular por vias que não levavam à saída. O olhar apático, passo desleixado e veloz impediam a descoberta da nova perspectiva; aquela que os tiraria do labirinto. Suspirei e puxei o caderno de notas do bolso. Escrevi: “Não preciso de mais feijão. Tenho o suficiente. Preciso do sonho: para sobreviver e ainda conservar a capacidade de deslumbramento. “ Fechei os olhos; ouvi o som da sirene do carro dos bombeiros. Abri os olhos e o Matias já me acenava para voltarmos. Lembrei-me do Lara de Orígenes Lessa e sorri. Muito bem...agora...ao feijão. Até o próximo sonho.

 

 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Dia do leitor

                     "A linguagem nos dá a ver por que, afinal, vivemos juntos. A maioria de nossas funções humanas é singular: não precisamos de ninguém para respirar, andar comer ou dormir. Mas, precisamos dos outros para falar, para que nos devolvam o que dissemos. A linguagem, declarou Döblin, é um modo de amar o outros."  (A cidade das palavras).

                        Assim, o argentino naturalizado canadense, Alberto Manguel, apresenta um motivo de encantamento para a figura do leitor. Ele é, desde o início da obra, amado pelo autor, por ser aquele que conversará com seu texto. Esta história de amor é renovada cada vez que um livro se abre.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

6 de janeiro - dia da Gratidão

                                                Agradecer
                                                Engrandece
                                                Enaltece
                                                Tece contornos de si para o outro
                                                Alinhava destinos
                                                Confecciona alegrias
                                                Remenda tristezas


   Obrigada a todos os leitores que prestigiam o blog. Forte abraço.

O misterioso Antônio Joaquim Pereira da Silva

"Ocaso. Em minha sala quase escura
Olho os retratos. Dante está presente:
- Face entanguida, olhar impertinente,
Boca num forte ríctus de amargura.

Em Poe, que o sol, num claro, transfigura
Baudelaire crava o olhar. E frente a frente
Fitam-se longa, misteriosamente,
Tal como o Tédio diante da Loucura...

Em torno e em tudo erra um silêncio absorto.
Sombra do gênio? Alma do desconforto?
Forma do ser disperso no Nirvana?

Quem saberá jamais? A noite desce.
Cada  efígie daquelas como cresce
E assombra mais minha tristeza humana!"

                                                                 INTERIOR in Solitudes, 1918.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Na casa de Astérion com Borges

"Que entre quem quiser. Não encontrará pompas mulheris aqui nem o bizarro aparato dos palácios, mas sim a quietude e a solidão. Por isso mesmo, encontrará uma casa como não há outra na face da Terra(...)A casa é do tamanho do mundo; ou melhor, é o mundo(...)".


Este fragmento de um conto do catálogo O Aleph diz muito do labirinto em que Borges quis inserir seus leitores: uma biblioteca única, com um sem fim de aventuras e da qual ninguém gostaria de sair.

sábado, 4 de janeiro de 2014

O calor das Palavras de T.S. Eliot

                                                                                                                   



                                                                                                                     "Words strain,
                                                                 Crack and sometimes break, under the burden,
                                                                 Under the tension, slip, slide, perish,
                                                                 Decay with imprecision, will not stay in place,
                                           Will not stay still."
                                                    
                                                                                                                        Four Quartets




As palavras lutam para serem ouvidas, ditas, pensadas e sonhadas.

Uma tarde com Italo Calvino

"Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto.".

Quanto deseja um escritor que algo de sua obra seja descoberto. Especialmente algo que estivesse escondido até dele mesmo.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O caminho de Alice

" 'Would you  tell me, please, which way I ought to go from here?'
   'That depends a good deal on where you want to get to', said the Cat.
   'I don't much care where -' said Alice.
   'Then it doesn't matter which way you go', said the Cat.
   ' - so long as I get somewhere,' Alice added as an explanation."

                                                                Alice's adventures in Wonderland



Chegar é sempre nosso desejo. Chegar a encontrar alguém ou algo perdido; chegar a um lugar de sonho; chegar a conseguir uma posição melhor, um trabalho mais prazeroso. Chegar a amar como fomos destinados a fazer. Chegar...

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A atualidade de Orwell

      Em 1949, foi editado pela primeira vez o surpreendente 1984, de George Orwell (com edição recente da Companhia das Letras, com tradução de Heloisa Jahn e Alexandre Hubner), texto que continua a impactar pela flagrante atualidade das palavras.
     Vivemos em uma época em que a privacidade é livre e conscientemente invadida. O Grande Irmão  - personagem-chave do livro que controla tudo e todos com o poder da intimidação - , continua presente nas câmeras (Sorria você está sendo filmado) e nos diversos reality shows que se multiplicam na TV.
      É leitura obrigatória. Rápida dica do dia.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Contos de um leitor voraz II


O sábado estava quente e não parecia convidativo para atividades esportivas ao ar livre (ou assim eu desejava, já que os amigos esperavam para uma partida de futebol). Liguei para o Haroldo e disse ter uma dor de cabeça – poderia ser a gripe que deixara ouros colegas de licença no trabalho. Pesaroso, Haroldo disse que eu deveria estar na cama. Livre do compromisso, pus-me a pensar no que faria. Ficar em casa, não queria. Troquei a camisa, peguei uma bolsa e sem saber bem o porquê, meti a câmera fotográfica e o caderno de notas lá.

Quando ganhei a rua, uma estranha sensação me tomou ao avistar um pássaro negro. Passou a milímetros de meu rosto, fazendo-me cambalear. Seria o corvo de Edgar Allan Poe? Tolice! Não há corvos aqui. Mas, e se fosse? Nevermore. Bom presságio ou mau agouro? Ora, o dia era meu e o roteiro também. Seria bom presságio para um dia de aventura.

Cruzando a esquina, rapidamente peguei a máquina para captar a imagem da inspiração que surpreendera. Mas, o estranho ser já fugira das vistas. Virando-me de relance, vi uma jovem, olhos fixos no chão, à beira da calçada oposta. Não era bonita, ou assim não parecia, pois não podia ver-lhe as feições. Eu, ali parado, aguardava o próximo passo. Possivelmente atraída pela insistência do meu olhar, a moça levantou o rosto e os mais lindos olhos negros me fitaram, cobertos de lágrimas. Sorri-lhe e acenei, como se faz ao encontro de um velho conhecido. Como sua única atitude fora a de descer da calçada para o asfalto, fui tomado de súbito terror e passei a acenar-lhe com frenético movimento. Podia ter-me como louco, mas ela parecia em perigo e eu, sua chance de resgate. Eu era o Quixote; ela, Dulcineia. Os carros e ônibus passavam a toda velocidade e ela, disposta ao próximo passo. A câmera ainda na mão pareceu-me, então, a arma que salvaria a donzela. Bati a foto e ela como que acordou de um sonho. Olhou para os lados, aflita. Atravessei a rua com as mãos erguidas, indiferente às buzinas e aos gritos ofensivos dos motoristas. Tomei sua mão e levei-a a um banco da praça próxima. Caminhamos em silêncio de mãos dadas. Notei então que vestia-se de preto – vestido e sapatos. Sentamo-nos. De repente, beijou-me a mão e sorriu balbuciando um tímido ‘obrigada’. Levantou-se, deixando-me ali, meio atordoado. Tirei da bolsa o caderno de notas e escrevi: “Bom presságio. Na escuridão do pensamento entristecido pelas tribulações que a vida apresenta, a doce visão de uma reluzente armadura traz inexplicável luz que anima o próximo passo. Miguel de Cervantes fez do Quixote o flash da câmera que acordaria gerações de homens e mulheres, ajudando-os  na esperança de dias melhores.

 

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...