sábado, 26 de janeiro de 2013

O canto do sertão

                A poesia musical de Cante lá que eu canto cá de Patativa do Assaré,obra publicada pela Editora Vozes, revela a face do sertanejo forte de que nos falou Euclides da Cunha. Força aparente nos textos recheados de compaixão,que contam a fragilidade humana, compreendendo-a e,ao mesmo tempo, celebrando superação diária.Com uma linguagem autêntica, apresenta-se como:

                     "   (...)
                        um caboclo rocêro,
                        sem letra e sem istrução;
                        O meu verso tem o chêro
                        Da poêra do sertão
                        (...)
                        Dêste jeito Deus me quis(...)"

 E mais adiante, em diálogo com outros artistas, no poema que dá título ao livro, diz:

                        "(...)
                        Repare que a minha vida
                        É deferente da sua
                        A sua rima pulida
                        Nasceu no salão da rua.
                        Já eu sou bem deferente,
                        Meu verso é como simente
                        Que nasce inriba do chão;
                        Não tenho estudo nem arte,
                        A minha rima faz parte
                        Das obras da Criação
                        (...)"

Do encontro com este artista do povo, o leitor pode depreender um contentamento descontente. À alegria e ser nordesntino, soma-se a suave dor advinda da luta por melhores condições. O leitor de Patativa do Assaré desejará, ao final do livro, cantar junto dele a arte da vida.
                      

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Impressionismo III

     A cor azul que, em seu conceito básico, evoca traquilidade e harmonia, presentes simbolicamente na água e no céu, tomou com os impressionistas fonte de energia. Os fortes e irregulares borrões da cor vistos à distância se fundiam dando formas definidas e encantadoras às paisagens do dia-a-dia. Os contornos diluídos provocam uma vibração interior àquele amante da arte.
     De maneira intencional, Rubén Darío escolheu Azul como título de sua coletânea de contos. A cada leitura - assim como a cada incidência de luz - sentimentos diversos são trazidos à mente do leitor. O reflexo das palavras sobre o leitor tem efeito similar ao reflexo das pinceladas curtas sobre a superfície dos objetos. A cor salta aos olhos do leitor de Azul tal qual uma tela de Monet.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um cálice de Porto com Fernando Pessoa

                "Vós todos que tendes uma escola, que andaes sob a canga de uma orientação, que pertenceis a qualquer cousa que acabe em ismo, que sois quaesquer entes que acabem em ISTAS! Para quê o limite se para ser limitado basta existir?
                   Crear é libertar-se!
                   Crear é substituir-se a si próprio!
                   Crear é ser desertor!
                   Substituamos as personalidades à personalidade. Que cada um seja muitos! Basta de ser para si a primeira pessoa do singular de qualquer  pronome ou verbo. Sejamos a Pessoa Absoluta do Plural Inconmensuravel. Menos que isto é a arte do passado!
                  (...)
                  Ser heroe é ser tudo num só acto de vida! (...)



     Trecho do livro Prosa de Álvaro de Campos

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Impressionismo II

            O impressionista retrata as coisas tal como aparecem no primeiro momento que, para ele, é o verdadeiro. A consciência, com seu conhecimento prévio de regras e leis, ainda não se interpôs. Umberto Eco em História da beleza cita as palavras de Manet: "não se faz uma paisagem, uma marina, uma figura; faz-se a impressão,em certa hora do dia, de uma paisagem, de uma marina ou de uma figura.". O interesse do impressionista, portanto, é o de trazer novas possibilidades de percepção, aumentar o escopo, a abrangência do olhar.
            Aproximamo-nos sobremaneira dos textos decadentistas. Em O retrato de Dorian Gray, por exemplo, o protagonista ganha de Lorde Henry um misterioso livro amarelo (ao leitor não é dado a conhecer o título). A leitura causa grande impacto na mente do jovem, que começa por questionar sua percepção de vida até então. A força e a energia da cor do astro ratifica a revolução a qual o jovem já abraçara. A cor incita a alteração no olhar. Não é para menos que o girassol tenha sido flor encantadora para os decadentistas : sempre à procura de luz.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Impressionismo I

(sugestão de tema de Elisabeth Pinto)

               O século XIX foi de inegável fecundidade. Todas as manifestações artísticas, guardando cada uma sua marca específica, operaram harmonicamente a genialidade de um transbordamento de luz e movimento.
             A impressão dos matizes, a incidência da luminosidade sobre as coisas aproximaram , em particular, literatura e pintura.
             Nas próximas cena, examinaremos a flagrante utilização de certas cores nos textos literários decadentes e no movimento impressionista na pintura. Começaremos com o amarelo. Até lá.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O que pode um corpo II

"Nada pode curar a alma, exceto os sentidos." Oscar Wilde

Como uma máquina perfeita, com cada peça e dispositivo desempenhando papéis específicos, nosso corpo, singular em sua pluralidade, pecisa de exercícios para manter-se em equilíbrio.Frequentemente, priorizamos um ou dois entidos em detrimento dos outros.O sentido da visão, por exemplo, em nosso século XXI é especialmente marcante.
 O convite de Wilde é o de, diariamente, forçarmos o uso de cada um dos cinco sentidos em harmonia. Fechar os olhos e tentar didentificar os diversos sons ao nosso redor, ou ainda com os olhos abertos e fixos num ponto, sentir os odores do espaço em que nos encontramos. Desenhar um ambiente com os olhos e as mãos da imaginação; escutar a leitura de um texto ( um audiolivro).
O equilíbrio do corpo passa pelo equilíbrio dos sentidos. Isto também é fazer arte.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Azul

     Na coletânea de textos Azul, o poeta nicaraguense Rubén Darío transita pelo sentimento de melancolia que a bela cor evoca.
    Em El fardo, Darío mergulha "allá lejos, en la línea, como trazada por un lápiz azul, que separara las aguas y los cielos" na árdua vida do pescador tío Lucas. Enquanto "todos los lancheros se habían ido ya", o trabalhador permanecia tentando dias melhores. A dor da perda de um filho - "en el oficio, por darnos de comer a todos: a mi mujer,a los chiquitos y a mí que entonces me hallabe enfermo"- é contada com os toques dapena deste decadentista admirador e amigo de Oscar Wilde. As poucas linhas do conto são suficientes para que o leitor se enamore deste personagem lutador.
     Tío Lucas iniciara o jovem filho no ofício por necessidade,"se quiso onerlo a la escuela desde grandecito", mas a numerosa família exigia jornada maior e dobrada. Em "un bello dia de luz clara, de sol de oro", estandotío Lucas adoentado, o filho foi sozinho e após um acidente "el espinazo desencajado y echando sangue negro por la boca", deixou esta vida. O poeta despede-se do pai sofredor, toma o caminho de casa a passos rápdosaceitando "una brisa glacial que venía de mar afuera, que pellizcaba tenazmente las narinas y las orejas", compartilhando da dor da perda daquele homem também artista da vida, que driblando as tribulações, insiste na esperança.

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...