sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Amar é...

Eis que vem o que já foi gestado. O novo. A novidade que é sempre a mesma e, paradoxalmente, outra. Eis que vem a completude. Uma esperança que nunca se cansa de esperar. Contra tudo. Dias melhores já vieram. É preciso apurar o olhar. Enxergar para além da linha. Dar força à entrelinha. O amor já está entre nós.

Eu que sou o outro

A humanidade forma uma linda cadeia em que todas as ações, agressões, alegrias e dores são compartilhadas de uma maneira misteriosa. O efeito de notícias sobre guerras, atentados, vitórias sobre preconceitos e conversões de vida afeta nossa mente e nosso corpo. Carregamos em nós, queiramos ou não, todos estes sentimentos, mesmo os daqueles que nem chegamos a ver pela TV, escutar nas rádios ou ler nos jornais. O reconhecimento deste mistério traz responsabilidade sobre toda a criação, sobre toda a criatura. Eu sou. Nós somos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL

Para todos os amigos que acompanharam o blog este ano, dando 'aquela força' o meu muito obrigada. Que o Natal chegue com muitas bênçãos, paz e alegria e que 2017 traga sucesso e grandes realizações.
Abraços.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A lacuna, em Machado

"Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo." in Dom Casmurro

Para vencer esta lacuna, vivemos. Não que ela poderá ser completamente preenchida. A entrelinha ajuda a ser flexível com as definições. No entanto, há que se imprimir algo de nosso no mundo e, para isso, enfrentamos tormentas e alegrias.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Definições

Lia recentemente em um exemplar do português Jornal das Letras um pensamento - não me recordo o autor, grande falha - de que nada se inventa ou cria, o que se descobre são as definições de tudo que já existe. Gostei. A própria palavra o diz: des-cobrir, tornar visível o que esteve oculto. Definir dá ao indivíduo um certo 'poder' sobre a coisa. Nomear faz com que nos sintamos de certa maneira donos daquele algo. Há também o perigo. Com o nome, vem a responsabilidade do cuidado, da valorização. Que continuemos a definir, sem esquecer de preservar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Desencontro

Zygmunt Bauman em Babel cita, a certa altura, Albert Camus: Eu me rebelo, logo nós existimos.. Ações individuais, seja por expressão de opinião nas redes sociais ou em conversas informais - especialmente com desconhecidos - nas filas de supermercados ou bancos têm-se constituído práticas mais comuns do que a arquitetura de movimentos nas ruas, por exemplo - mais frequentes há vinte ou trinta anos. O encontro pessoal com o outro para reivindicar algo tido como direito ou, em menor escala, para troca de ideias e pensamentos não é tão fácil como o era nos dias em que a tecnologia ainda não consumia nossos dias. As 'opiniões' se sucedem, mas carecem daquele embasamento de quem realmente se debruçou sobre o assunto a ponto de ter dele uma posição convicta. Ideias não são mais trocadas, com frequência. Opiniões são proferidas - por vezes, sem o devido respeito às crenças do outro. Monólogos se multiplicam, esquecidos de que há necessidade do outro para tudo que há em cada um. Sou com o outro. O respeito à diferença passa por aí. Se não reflito com o outro sobre assuntos de cujos temas podemos até discordar, não buscarei progresso pessoal e/ou coletivo. Bauman ressalta que, na 'Babel das opiniões', perdemos tempo precioso de encontro. O que cada um pensa deve ser levado em consideração. No entanto, a partir do momento em que perco o instante da escuta, desvalorizo a troca. Se a 'exigência' para um relacionamento seja que um pense de maneira igual ao outro há uma clara regressão. Os pensamentos divergentes movem, sem necessariamente produzir combate. O pensamento do outro, diferente do meu, faz com que haja constante revisão em mim. Este é o segredo do convívio social.

Insight

Caí
Do chão, a visão
Do infinito:
Sou mesmo um átimo.
No reconhecimento do meu nada,
Levantei.
Começo a viver na fé,
NAquele para quem sou tudo.

O outro

Note:
Estou só
Anote o mote:
A solidão me move.
Sorte?

Encontro o outro
Está só
Anote:
Sua solidão me completa.
Sorte!
Mudo de mote, anote.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Com a pessoa de Pessoa

Ode marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Na memória da retina

Guardamos memórias em fotos, cartas, objetos, mas, o tempo, este inexorável amigo, corrói, deteriora. As retinas, no entanto, vêm em socorro e resgata - às vezes, com custo - lembranças queridas e trazem sabores à boca, perfumes, ao nariz, sorrisos, toques à mente, fazendo-nos reviver instantes como se os ponteiros do relógio combinassem uma pausa restauradora.
Na memória das minhas retinas, tenho de volta a gargalhada de minha mãe em nossa última viagem. A foto, perdida. O som, a efusão do sentimento daquele dia ainda fresco no fechar dos olhos. Acho que prefiro assim. O histórico destas lembranças armazenado no disco rígido da mente amorosa vai comigo para onde eu for. Para sempre.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Para hoje, Manoel de Barros, sempre

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...