terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Desencontro

Zygmunt Bauman em Babel cita, a certa altura, Albert Camus: Eu me rebelo, logo nós existimos.. Ações individuais, seja por expressão de opinião nas redes sociais ou em conversas informais - especialmente com desconhecidos - nas filas de supermercados ou bancos têm-se constituído práticas mais comuns do que a arquitetura de movimentos nas ruas, por exemplo - mais frequentes há vinte ou trinta anos. O encontro pessoal com o outro para reivindicar algo tido como direito ou, em menor escala, para troca de ideias e pensamentos não é tão fácil como o era nos dias em que a tecnologia ainda não consumia nossos dias. As 'opiniões' se sucedem, mas carecem daquele embasamento de quem realmente se debruçou sobre o assunto a ponto de ter dele uma posição convicta. Ideias não são mais trocadas, com frequência. Opiniões são proferidas - por vezes, sem o devido respeito às crenças do outro. Monólogos se multiplicam, esquecidos de que há necessidade do outro para tudo que há em cada um. Sou com o outro. O respeito à diferença passa por aí. Se não reflito com o outro sobre assuntos de cujos temas podemos até discordar, não buscarei progresso pessoal e/ou coletivo. Bauman ressalta que, na 'Babel das opiniões', perdemos tempo precioso de encontro. O que cada um pensa deve ser levado em consideração. No entanto, a partir do momento em que perco o instante da escuta, desvalorizo a troca. Se a 'exigência' para um relacionamento seja que um pense de maneira igual ao outro há uma clara regressão. Os pensamentos divergentes movem, sem necessariamente produzir combate. O pensamento do outro, diferente do meu, faz com que haja constante revisão em mim. Este é o segredo do convívio social.

Um comentário:

  1. A tecnologia é fantástica mas está distanciando cada vez
    mais as pessoas. As relações de hoje são superficiais.
    Há predomínio da intolerância. Difícil hoje a luta por um bem comum, por exemplo. E a gente precisa do outro não é mesmo? Importante a reflexão do texto.

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