Conto o sonho que contei ou sonho o conto que contei. Nem sei. O que sei é que acordei em uma sala com pouca luz e uma biblioteca gigantesca. A maior que os olhos da imaginação poderiam conceber. As capas dos livros eram multicoloridaas. Cada corem uma determinada prateleira como se representasse o assunto do texto. Chamou-me atenção a coleção amarela (por certo - afinal,minha cor favorita). A ordenação não era alfabética,nem pelo autor nem pelo título. Todos os livros, no entanto, com capas amarelas (de diferentes matizes, é verdade - o que aguçou ainda mais a curiosidade até então cansada da rotina do escritório. Autores estrangeiros e brasileiros desfilam diante de meus olhos ávidos de explicações. Oscar Wilde, Clarice Lispector, Gustave Flaubert, Charles Baudelaire, João do Rio, Rubem Dario, Elysio de Carvalho, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Joge Luis Borges, Miguel de Cervantes, Lima Barreto. Todos em amarelo. Rapidamente, olhos cerrados, busco nos arquivos da memória o que teriam em comum. A rebeldia, a não conformidade, amor incondicional à arte, jogo constante de palavras, construtores de labirintos. Era isso, então. Os tons mais fortes ou mais suaves poderiam significar as consequências enfrentadas na defesa desta paixão. Abro os olhos, pensando que sim. Obras de uma beleza peregrina, delicados (e por vezes bruscos) toques de genialidade. Fascinante! Passei do encantamento à indagação acerca do organizador e idealizador de tal façanha. Um empreendimento como este deve ter consumido anos. E quanto às outras cores? No vermelho apaixonado, visceral encontrei Augusto dos Anjos, Bocage, Alvares de Azevedo, Cruz e Souza, Medeiros e Albuquerque, J. D. Salinger, Philip Roth, Graciliano Ramos. Artistas da carne, da terra, que insistiram pela rai das coisas. O verde da natureza trouxe Victor Hugo, José de Alencar, Cecília Meireles, Bernardo Guimarães...Extático, deixo correr os olhos e a textura parece se ajustar às nuances das cores. Explico-me: abri os olhos rapidamente para observar que os tons mais fortes eram de uma maciez e suavidade impressionantes. Odores variados chegam no instante completando a dança dos sentidos. Onde estou? O pensamento se materializa e as palavras rompem num grito. Onde estou? Olhos de um verde esmeralda encantador e reluzente me observam do centro de uma das prateleiras e de lá soa uma voz: "Alea. Você está em Alea." Onde fica este lugar? Em que país? Em que continente?" "Em Alea, a vida é aproveitada em sua plenitude e procurmos evitar atribulações e perturbações". "Estou perturbado agora, já que não sei como cheguei nem o que faço aqui e tampouco como sair daqui!" "Você se preocupa demais. Percebeu tudo a sua volta? Já tinha visto algo assim? "Nunca." "Já não valeu a pena a vinda?" "Não sei. Não consigo entender o propósito." "De que?" "De estar aqui!!!!" "Hum... Caso difícil o seu." "Como ousa julgar-me. Estou em uma cidade fictícia, conversando com um par de olhos brilhantes numa biblioteca com inusitados aromas e cores mil. Como não estranhar?" "Maravilhar" "O que?" "Maravilhar-se. É disto que precisa. Abra os olhos." "Estão abertos." "Ainda não. Abra-os agora..."
Ao pé do moinho nas montanhas, avisto a armadura. Adiantou-se e isso me alegrou. Sorri, ansiosa. Seus olhos eram de umaa zul profundo e de sincera pureza e brandura. "Encantado, bela donzela. Dom Quixote, a seu serviço. Perdoe-me se pareço um tanto cansado. Volto de uma aventura em terras geladas e ainda recupero o fôlego. A nobre donzela sabia que novos povos estão se estabelecendo ao norte? Gente interesante. Viam-me como aumigual. Quase não quis voltar. Mas,você sabe...Dulcinéia me espera." "Onde ela está?" "Boa pergunta. Preciso consulta meus manuscritos e mapas. Encontro-me ao sul de Alea.." " Sim, sim. Alea. Estamos em Alea. Ou assim me disse o ser de olhos de esmeralda." "Encontrou-se com ele também?! Ele me indicou caminho quando aqui cheguei." "Você veio de onde?" "De Mancha. Que saudades! Para voltar devo fechar os olhos, mas há aqui tanto ainda a se fazer...Estou deveras cansado,porém...Não posso parar. Sigo. Boas sortes, amiga." "Não vá ainda. Ajude-me. Quero ir para casa." "Ha, ha. Mas, você está em casa. Adeus."
Sozinha mais uma vez. A visão parece falhar. Vejo um vulto ao longe....
domingo, 28 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Diário
Vozes de inúmeras pessoas que passaram por minha vida ecoam em minha mente. Risos, lágrimas, pedidos, respostas, encontros, desencontros, tudo torna o meu silêncio um saboroso barulho. Sons resgatados pela memória sequiosa daquela alegria juvenil que embala os dias de ócio.
Se o medo cala, a audácia procura seu lugar em meio ao sonho de mudanças a cada nova descoberta e amor. Só pelo e com amor seremos lembrança e palavra imortal.
Muito há ainda por fazer.
Se o medo cala, a audácia procura seu lugar em meio ao sonho de mudanças a cada nova descoberta e amor. Só pelo e com amor seremos lembrança e palavra imortal.
Muito há ainda por fazer.
A Capitu
Meus olhos
Não são como os teus
Admiro,
de longe, a ressaca
E invejo teus instantes
O fulgor que embalava
Teus dias de ócio
E, mais
O amor pela vida
Ou ainda,
O amor pelo que a vida ofereceria
Àqueles que ousassem
O passo além
Não são como os teus
Admiro,
de longe, a ressaca
E invejo teus instantes
O fulgor que embalava
Teus dias de ócio
E, mais
O amor pela vida
Ou ainda,
O amor pelo que a vida ofereceria
Àqueles que ousassem
O passo além
sábado, 13 de outubro de 2012
Infância
Presente no tempo
Alheia ao espaço
Avessa à solidão
A criança corre
Vai e volta
Ri-se como se fosse múltipla
Conversa com seus duplos
Cai, gargalha
Recomeça
Sente-se toda
Completa
Única em sua multiplicidade
Corre ainda vez mais
O tempo é como se não fosse
De olhos fechados,
O espaço não existe
É só ela
Plural e singular
Alheia ao espaço
Avessa à solidão
A criança corre
Vai e volta
Ri-se como se fosse múltipla
Conversa com seus duplos
Cai, gargalha
Recomeça
Sente-se toda
Completa
Única em sua multiplicidade
Corre ainda vez mais
O tempo é como se não fosse
De olhos fechados,
O espaço não existe
É só ela
Plural e singular
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
A Pedro Bandeira
Carregaste minha infância
Afagaste meus dias
Surpreendeste-me com o brilho das aventuras
Coloriste minha vida com a fantasia necessária
Descobri tesouros
Esqueci fracassos
De palavras inocentes cobri minha alma
Sorveste o melhor de mim
Retribuo a delicadeza
És parte de mim
Afagaste meus dias
Surpreendeste-me com o brilho das aventuras
Coloriste minha vida com a fantasia necessária
Descobri tesouros
Esqueci fracassos
De palavras inocentes cobri minha alma
Sorveste o melhor de mim
Retribuo a delicadeza
És parte de mim
sábado, 6 de outubro de 2012
Rituais II
Veste a melhor roupa
Escolhe o batom e a bolsa.
Senta-se de frente para o espelho
Os olhos parecem cansados
Mas ainda guardam o brilho infantil da curiosidade
A esperança ainda nutre suas entranhas
Levanta-se
Era a hora da estrela
Escolhe o batom e a bolsa.
Senta-se de frente para o espelho
Os olhos parecem cansados
Mas ainda guardam o brilho infantil da curiosidade
A esperança ainda nutre suas entranhas
Levanta-se
Era a hora da estrela
O instante
"Às vezes podemos passar anos sem realmente viver, e de repente toda a nossa vida se concentra em um só instante". Oscar Wilde
Por este instante, vale a pena tudo o que tenha passado. Por este instante, caminhamos na dificuldade.Pela lucidez deste instante, movemo-nos por entre espinhos.Por este instante, ousamos viver e não apenas existir.
Por este instante, vale a pena tudo o que tenha passado. Por este instante, caminhamos na dificuldade.Pela lucidez deste instante, movemo-nos por entre espinhos.Por este instante, ousamos viver e não apenas existir.
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