domingo, 28 de outubro de 2012

Sonho o conto, conto o sonho I

                          Conto o sonho que contei ou sonho o conto que contei. Nem sei. O que sei é que acordei em uma sala com pouca luz e uma biblioteca gigantesca. A maior que os olhos da imaginação poderiam conceber. As capas dos livros eram multicoloridaas. Cada corem uma determinada prateleira como se representasse o assunto do texto. Chamou-me atenção a coleção amarela (por certo - afinal,minha cor favorita). A ordenação não era alfabética,nem pelo autor nem pelo título. Todos os livros, no entanto, com capas amarelas (de diferentes matizes, é verdade - o que aguçou ainda mais a curiosidade até então cansada da rotina do escritório. Autores estrangeiros e brasileiros desfilam  diante de meus olhos ávidos de explicações. Oscar Wilde, Clarice Lispector, Gustave Flaubert, Charles Baudelaire, João do Rio, Rubem Dario, Elysio de Carvalho, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Joge Luis Borges, Miguel de Cervantes, Lima Barreto. Todos em amarelo. Rapidamente, olhos cerrados, busco nos arquivos da memória o que teriam em comum. A rebeldia, a não conformidade, amor incondicional à arte, jogo constante de palavras, construtores de labirintos. Era isso, então. Os tons mais fortes ou mais suaves poderiam significar as consequências enfrentadas na defesa desta paixão. Abro os olhos, pensando que sim. Obras de uma beleza peregrina, delicados (e por vezes bruscos) toques de genialidade. Fascinante! Passei do encantamento à indagação acerca do organizador e idealizador de tal façanha.  Um empreendimento como este deve ter consumido anos. E quanto às outras cores? No vermelho apaixonado, visceral encontrei Augusto dos Anjos, Bocage, Alvares de Azevedo, Cruz e Souza, Medeiros e Albuquerque, J. D. Salinger, Philip Roth, Graciliano Ramos. Artistas da carne, da terra, que insistiram pela rai das coisas. O verde da natureza trouxe Victor Hugo, José de Alencar, Cecília Meireles, Bernardo Guimarães...Extático, deixo correr os olhos e a textura parece se ajustar às nuances das cores. Explico-me: abri os olhos rapidamente para observar que os tons mais fortes eram de uma maciez e suavidade impressionantes. Odores variados chegam no instante completando a dança dos sentidos. Onde estou? O pensamento se materializa e as palavras rompem num grito. Onde estou? Olhos de um verde esmeralda encantador e reluzente me observam do centro de uma das prateleiras e de lá soa uma voz: "Alea. Você está em Alea." Onde fica este lugar? Em que país? Em que continente?" "Em Alea, a vida é aproveitada em sua plenitude e procurmos evitar atribulações e perturbações". "Estou perturbado agora, já que não sei como cheguei nem o que faço aqui e tampouco como sair daqui!" "Você se preocupa demais. Percebeu tudo a sua volta? Já tinha visto algo assim? "Nunca." "Já não valeu a pena a vinda?" "Não sei. Não consigo entender o propósito." "De que?" "De estar aqui!!!!" "Hum... Caso difícil o seu." "Como ousa julgar-me. Estou em uma cidade fictícia, conversando com um par de olhos brilhantes numa biblioteca com inusitados aromas e cores mil. Como não estranhar?" "Maravilhar" "O que?" "Maravilhar-se. É disto que precisa. Abra os olhos." "Estão abertos." "Ainda não. Abra-os agora..."

                           Ao pé do moinho nas montanhas, avisto a armadura. Adiantou-se e isso me alegrou. Sorri, ansiosa. Seus olhos eram de umaa zul profundo e de sincera pureza e brandura. "Encantado, bela donzela. Dom Quixote, a seu serviço. Perdoe-me se pareço um tanto cansado. Volto de uma aventura em terras geladas e ainda recupero o fôlego. A nobre donzela sabia que novos povos estão se estabelecendo ao norte? Gente interesante. Viam-me como aumigual. Quase não quis voltar. Mas,você sabe...Dulcinéia me espera." "Onde ela está?" "Boa pergunta. Preciso consulta meus manuscritos e mapas. Encontro-me ao sul de Alea.." " Sim, sim. Alea. Estamos em Alea. Ou assim me disse o ser de olhos de esmeralda." "Encontrou-se com ele também?! Ele me indicou   caminho quando aqui cheguei." "Você veio de onde?" "De Mancha. Que saudades! Para voltar devo fechar os olhos, mas há aqui tanto ainda a se fazer...Estou deveras cansado,porém...Não posso parar. Sigo. Boas sortes, amiga." "Não vá ainda. Ajude-me.  Quero ir para casa." "Ha, ha. Mas, você está em casa. Adeus."

                          Sozinha mais uma vez. A visão parece falhar. Vejo um vulto ao longe....

2 comentários:

  1. Interessante quando vc introduz as cores no seu conto sonhado , como que representando o estilo das obras dos autores, enaltecendo-as e dando toques de vivacidade às mesmas.
    boa noite
    Beth

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  2. Quando penso em uma história, gosto de imaginar o aroma do ambiente e então, de repente, estou lá. Obrigada por sua presença carinhosa no blog, Beth.

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