quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mais uma vez...Pessoa


 Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
... Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
 
                               

2 comentários:

  1. Percebe-se uma forte inquietude do autor neste poema, em constante auto-reflexão sobre seus próprios sentimentos e ao que o cerca.

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  2. Lendo-se e relendo-se a cada dia. Esta é uma característica que gosto em Fernando Pessoa. Bjs.

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