Rasgar fronteiras, desafiando com o corpo um estado de coisas conflitantes em relação à condição a que todo o indivíduo é 'chamado', tem sido o objetivo de diversas manifestações artísticas. Toda com um cunho político - no sentido amplo da palavra.
Em A alma do homem sob o socialismo, Oscar Wilde tece considerações acerca de um regime de governo que, longe de impedir o crescimento pessoal, oferece formas de incentivá-lo. Diferentemente do que alguns acredita, pensamos que não fora intenção de Wilde a pura defesa do socialismo - associando-se às ações politicamente engajadas da mãe -, mas sim a defesa de uma condição política e econômica favorável, que trouxesse tranquilidade tal (com trabalho para todos, sistema de saúde e educação funcionando com qualidade) que qualquer indivíduo se sentisse como é; uma obra de arte, impelido à concretização do projeto que é a sua vida.
Ora, este pensamento ' revolucionário' de finais de século XIX não estaria em relação direta com o desejo de tantos da contemporaneidade? As amarras que a necessidade de sobrevivência exige deixam em último plano o anseio por aquela suspensão do tempo, aquele momento de ócio em que o pensamento esteja livre para criar . Pensamos que isto seria uma proposta de 'des-governo'. Não precisar ser dirigido à busca de lucro exagerado bem estar social e econômico, preocupações com como parecer aos outros - tudo isto ainda parece acompanhar as noites de cansaço de muitos de nós. As ideias de Wilde desvelam a fagulha de um ideal que se quer amortecido. A Arte, no entanto, é chama, abrasadora. Chama, conclama, reclama.
Oscar Wilde é cult.
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Realmente este autor foge aos padrões comuns.
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