À mesa com o Chapeleiro Maluco - sobre corvos e escrivaninhas, publicado em 2009 pela Companhia das Letras,constitui saboroso solilóquio do cidadão canadense, nascido em Buenos Aires, Alberto Manguel.
Nos vinte e seis ensaios agrupados em cinco capítulos, Manguel 'discursa' um elogioso périplo cultural por entre as linhas de expoentes da cena artística, como Stevenson, Julio Verne, Conan Doyle, Van Gogh, além de suas próprias reflexões acerca do impacto destas figuras em sua vida e na 'vida do mundo'. Manguel oferece, assim, o chá de uma escrita fluida a leitores ávidos da talvez "única justificativa para a literatura: que a loucura do mundo não nos tome por completo (...)nossa copa, nossa sala e a casa inteira".
Partindo do chá celerado promovido pelo Chapeleiro de Carroll - e compartilhado ao longo da história por torturadores,terroristas e exploradores -, Manguel empresta força para experimentar a loucura,mostrando como os artistas, lutando com suas penas e pincéis, dela emergiram "por meio de atos extraordinariamente humanos, irracionalmente sábios e insanamente audazes", lutando contra a prepotência.
O mundo, esta biblioteca de signos, como diz Manguel, abriga textos misteriosos que a arte gratuitamente chama à interpretação. O tesouros dos segredos revelados residirá na mente aberta do leitor ideal de que nos fala em um dos capítulos que merece destaque:"aquele que é capaz de dissecar o texto, retirar a pele, fazer um corte até a medula, seguir pela artéria e depois dar vida a um novo ser sensível". Se viemos ao mundo como leitores, "nosso primeiro impulso é decifrar o que percebemos a nossa volta" e nada como a arte para revelar o oculto aos condenados à vida consciente.O primeiro passo foi dado por aventureiros, como O Quixote de Cervantes, que ousaram questionar e questionar mesmo permanecendo "implacavelmente sem resposta". Pelo espectro de uma resposta lutaram.
Para a loucura ininteligível do mundo, Alberto Manguel atesta que "Alice e as sombras de se País das Maravilhas representam para nós os mesmos papéis que representamos e vemos representados no mundo real(...), contam histórias de comportamentos absurdos e insanos que refletem os nossos para que possamos vê-los e entendê-los melhor" e assim, erigirmos, com criatividade e imaginação a verdadeira existência a que fomos chamados - a artística.
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Ao ler seus textos , aprendemos sempre o significado de palavras (não muito usuais), que enriquecem nosso vocabulário.
ResponderExcluirboa noite,
Beth
As palavras tomam sentido a partir do sentimento que delas colhemos. Obrigada sempre.
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