A poesia musical de Cante lá que eu canto cá de Patativa do Assaré,obra publicada pela Editora Vozes, revela a face do sertanejo forte de que nos falou Euclides da Cunha. Força aparente nos textos recheados de compaixão,que contam a fragilidade humana, compreendendo-a e,ao mesmo tempo, celebrando superação diária.Com uma linguagem autêntica, apresenta-se como:
" (...)
um caboclo rocêro,
sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão
(...)
Dêste jeito Deus me quis(...)"
E mais adiante, em diálogo com outros artistas, no poema que dá título ao livro, diz:
"(...)
Repare que a minha vida
É deferente da sua
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obras da Criação
(...)"
Do encontro com este artista do povo, o leitor pode depreender um contentamento descontente. À alegria e ser nordesntino, soma-se a suave dor advinda da luta por melhores condições. O leitor de Patativa do Assaré desejará, ao final do livro, cantar junto dele a arte da vida.
sábado, 26 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Impressionismo III
A cor azul que, em seu conceito básico, evoca traquilidade e harmonia, presentes simbolicamente na água e no céu, tomou com os impressionistas fonte de energia. Os fortes e irregulares borrões da cor vistos à distância se fundiam dando formas definidas e encantadoras às paisagens do dia-a-dia. Os contornos diluídos provocam uma vibração interior àquele amante da arte.
De maneira intencional, Rubén Darío escolheu Azul como título de sua coletânea de contos. A cada leitura - assim como a cada incidência de luz - sentimentos diversos são trazidos à mente do leitor. O reflexo das palavras sobre o leitor tem efeito similar ao reflexo das pinceladas curtas sobre a superfície dos objetos. A cor salta aos olhos do leitor de Azul tal qual uma tela de Monet.
De maneira intencional, Rubén Darío escolheu Azul como título de sua coletânea de contos. A cada leitura - assim como a cada incidência de luz - sentimentos diversos são trazidos à mente do leitor. O reflexo das palavras sobre o leitor tem efeito similar ao reflexo das pinceladas curtas sobre a superfície dos objetos. A cor salta aos olhos do leitor de Azul tal qual uma tela de Monet.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Um cálice de Porto com Fernando Pessoa
"Vós todos que tendes uma escola, que andaes sob a canga de uma orientação, que pertenceis a qualquer cousa que acabe em ismo, que sois quaesquer entes que acabem em ISTAS! Para quê o limite se para ser limitado basta existir?
Crear é libertar-se!
Crear é substituir-se a si próprio!
Crear é ser desertor!
Substituamos as personalidades à personalidade. Que cada um seja muitos! Basta de ser para si a primeira pessoa do singular de qualquer pronome ou verbo. Sejamos a Pessoa Absoluta do Plural Inconmensuravel. Menos que isto é a arte do passado!
(...)
Ser heroe é ser tudo num só acto de vida! (...)
Trecho do livro Prosa de Álvaro de Campos
Crear é libertar-se!
Crear é substituir-se a si próprio!
Crear é ser desertor!
Substituamos as personalidades à personalidade. Que cada um seja muitos! Basta de ser para si a primeira pessoa do singular de qualquer pronome ou verbo. Sejamos a Pessoa Absoluta do Plural Inconmensuravel. Menos que isto é a arte do passado!
(...)
Ser heroe é ser tudo num só acto de vida! (...)
Trecho do livro Prosa de Álvaro de Campos
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Impressionismo II
O impressionista retrata as coisas tal como aparecem no primeiro momento que, para ele, é o verdadeiro. A consciência, com seu conhecimento prévio de regras e leis, ainda não se interpôs. Umberto Eco em História da beleza cita as palavras de Manet: "não se faz uma paisagem, uma marina, uma figura; faz-se a impressão,em certa hora do dia, de uma paisagem, de uma marina ou de uma figura.". O interesse do impressionista, portanto, é o de trazer novas possibilidades de percepção, aumentar o escopo, a abrangência do olhar.
Aproximamo-nos sobremaneira dos textos decadentistas. Em O retrato de Dorian Gray, por exemplo, o protagonista ganha de Lorde Henry um misterioso livro amarelo (ao leitor não é dado a conhecer o título). A leitura causa grande impacto na mente do jovem, que começa por questionar sua percepção de vida até então. A força e a energia da cor do astro ratifica a revolução a qual o jovem já abraçara. A cor incita a alteração no olhar. Não é para menos que o girassol tenha sido flor encantadora para os decadentistas : sempre à procura de luz.
Aproximamo-nos sobremaneira dos textos decadentistas. Em O retrato de Dorian Gray, por exemplo, o protagonista ganha de Lorde Henry um misterioso livro amarelo (ao leitor não é dado a conhecer o título). A leitura causa grande impacto na mente do jovem, que começa por questionar sua percepção de vida até então. A força e a energia da cor do astro ratifica a revolução a qual o jovem já abraçara. A cor incita a alteração no olhar. Não é para menos que o girassol tenha sido flor encantadora para os decadentistas : sempre à procura de luz.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Impressionismo I
(sugestão de tema de Elisabeth Pinto)
O século XIX foi de inegável fecundidade. Todas as manifestações artísticas, guardando cada uma sua marca específica, operaram harmonicamente a genialidade de um transbordamento de luz e movimento.
A impressão dos matizes, a incidência da luminosidade sobre as coisas aproximaram , em particular, literatura e pintura.
Nas próximas cena, examinaremos a flagrante utilização de certas cores nos textos literários decadentes e no movimento impressionista na pintura. Começaremos com o amarelo. Até lá.
O século XIX foi de inegável fecundidade. Todas as manifestações artísticas, guardando cada uma sua marca específica, operaram harmonicamente a genialidade de um transbordamento de luz e movimento.
A impressão dos matizes, a incidência da luminosidade sobre as coisas aproximaram , em particular, literatura e pintura.
Nas próximas cena, examinaremos a flagrante utilização de certas cores nos textos literários decadentes e no movimento impressionista na pintura. Começaremos com o amarelo. Até lá.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
O que pode um corpo II
"Nada pode curar a alma, exceto os sentidos." Oscar Wilde
Como uma máquina perfeita, com cada peça e dispositivo desempenhando papéis específicos, nosso corpo, singular em sua pluralidade, pecisa de exercícios para manter-se em equilíbrio.Frequentemente, priorizamos um ou dois entidos em detrimento dos outros.O sentido da visão, por exemplo, em nosso século XXI é especialmente marcante.
O convite de Wilde é o de, diariamente, forçarmos o uso de cada um dos cinco sentidos em harmonia. Fechar os olhos e tentar didentificar os diversos sons ao nosso redor, ou ainda com os olhos abertos e fixos num ponto, sentir os odores do espaço em que nos encontramos. Desenhar um ambiente com os olhos e as mãos da imaginação; escutar a leitura de um texto ( um audiolivro).
O equilíbrio do corpo passa pelo equilíbrio dos sentidos. Isto também é fazer arte.
Como uma máquina perfeita, com cada peça e dispositivo desempenhando papéis específicos, nosso corpo, singular em sua pluralidade, pecisa de exercícios para manter-se em equilíbrio.Frequentemente, priorizamos um ou dois entidos em detrimento dos outros.O sentido da visão, por exemplo, em nosso século XXI é especialmente marcante.
O convite de Wilde é o de, diariamente, forçarmos o uso de cada um dos cinco sentidos em harmonia. Fechar os olhos e tentar didentificar os diversos sons ao nosso redor, ou ainda com os olhos abertos e fixos num ponto, sentir os odores do espaço em que nos encontramos. Desenhar um ambiente com os olhos e as mãos da imaginação; escutar a leitura de um texto ( um audiolivro).
O equilíbrio do corpo passa pelo equilíbrio dos sentidos. Isto também é fazer arte.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Azul
Na coletânea de textos Azul, o poeta nicaraguense Rubén Darío transita pelo sentimento de melancolia que a bela cor evoca.
Em El fardo, Darío mergulha "allá lejos, en la línea, como trazada por un lápiz azul, que separara las aguas y los cielos" na árdua vida do pescador tío Lucas. Enquanto "todos los lancheros se habían ido ya", o trabalhador permanecia tentando dias melhores. A dor da perda de um filho - "en el oficio, por darnos de comer a todos: a mi mujer,a los chiquitos y a mí que entonces me hallabe enfermo"- é contada com os toques dapena deste decadentista admirador e amigo de Oscar Wilde. As poucas linhas do conto são suficientes para que o leitor se enamore deste personagem lutador.
Tío Lucas iniciara o jovem filho no ofício por necessidade,"se quiso onerlo a la escuela desde grandecito", mas a numerosa família exigia jornada maior e dobrada. Em "un bello dia de luz clara, de sol de oro", estandotío Lucas adoentado, o filho foi sozinho e após um acidente "el espinazo desencajado y echando sangue negro por la boca", deixou esta vida. O poeta despede-se do pai sofredor, toma o caminho de casa a passos rápdosaceitando "una brisa glacial que venía de mar afuera, que pellizcaba tenazmente las narinas y las orejas", compartilhando da dor da perda daquele homem também artista da vida, que driblando as tribulações, insiste na esperança.
Em El fardo, Darío mergulha "allá lejos, en la línea, como trazada por un lápiz azul, que separara las aguas y los cielos" na árdua vida do pescador tío Lucas. Enquanto "todos los lancheros se habían ido ya", o trabalhador permanecia tentando dias melhores. A dor da perda de um filho - "en el oficio, por darnos de comer a todos: a mi mujer,a los chiquitos y a mí que entonces me hallabe enfermo"- é contada com os toques dapena deste decadentista admirador e amigo de Oscar Wilde. As poucas linhas do conto são suficientes para que o leitor se enamore deste personagem lutador.
Tío Lucas iniciara o jovem filho no ofício por necessidade,"se quiso onerlo a la escuela desde grandecito", mas a numerosa família exigia jornada maior e dobrada. Em "un bello dia de luz clara, de sol de oro", estandotío Lucas adoentado, o filho foi sozinho e após um acidente "el espinazo desencajado y echando sangue negro por la boca", deixou esta vida. O poeta despede-se do pai sofredor, toma o caminho de casa a passos rápdosaceitando "una brisa glacial que venía de mar afuera, que pellizcaba tenazmente las narinas y las orejas", compartilhando da dor da perda daquele homem também artista da vida, que driblando as tribulações, insiste na esperança.
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