A obra que, em sua gestação alimenta o desejo de resistir à inexorabilidade do tempo cronológico, propõe embates que impelem questionamentos. Abrindo-se em cada releitura a novas perspectivas de ação e reação ela traça, assim, seu destino rumo à perenidade.
Machado de Assis, escritor com olhar de ressaca,colecionador de memórias póstumas, marca sua entrada no jogo da literatura com um exercício singular na escolha de temas que primam por um bailado atemporal. Pinçados meticulosamente, são convite para a aventura de experimentar e desenvolver as potencialidades.
O bruxo do Cosme Velho, na alquimia das palavras, transita pelos gêneros literários 'alienando' o leitor a todo comportamento previsível e ensaia na helênica beleza de espelhos conjugados o entrelaçamento de realidade e ficção. Esaú e Jacó, Machado e leitor, parecem engendrar uma luta pelo amor da mesma musa - a letra. Mais verdadeiro, no entanto, seria firmar que são parceiros como a mão e a luva, um completando e estetizando o outro. A multiplicidade de seu corpus exalta o brilho da vida devotada à arte. Quando o leitor pensa ter desnudado sua intenção, Machado, sempre à espreita, desfaz fio a fio o bordado das sílabas e das frases. O recuo exigirá um impulso ainda mais forte para além da obviedade, em direção ao imensurável. Este maravilhoso escritor permite a percepção do texto como corpo com espaço, tempo, cores e formas próprios que não se quer, porém, descolado do universo cotidiano porque é coincidência entre natural e artificial, entre a atividade voluntária e a inconsciente.
Consagrando um século precursor de importantes mudanças, Machado de Assis provoca ainda hoje, com ironia e doçura, a aversão à comodidade. Em um escritor como ele, a arte sempre vence.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Qual sua personagem favorita? II
O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...
-
O silêncio celebrado no filme O artista , de Michel Hazanavicius, reaqueceu a lembrança de um ...
-
Guardamos memórias em fotos, cartas, objetos, mas, o tempo, este inexorável amigo, corrói, deteriora. As retinas, no entanto, vêm em socorro...
-
"O que ocorre, de fato, é que, quando me olho no espelho, em meus olhos olham olhos alheios; quando me olho no espelho não vejo o mundo...
Gosto muito das obras de Machado de Assis e você o descreve tão bem...
ResponderExcluirTe admiro muito Stella.
Bjs!
Ana
Fico muito alegre com seu comentário, Ana. A admiração é recíproca.
ExcluirJá ouvi falar desse livro (Esaú e Jacó) e sei um pouquinho da história. Vou procurar para ler. Como disse a Ana Cristina acima,
ResponderExcluirvoce descreve tão bem a obra que dá vontade de ler.
bjs
Beth
Acho que vale a pena ler a história. Muito obrigada pela força, Beth. Bjs.
Excluir