sábado, 30 de junho de 2012

A palavra na era da imagem

                           (primeiro lugar no Concurso de Redação para professores-Academia Brasileira de
                                                                 Letras-Folha Dirigida-2005)



                         Nossa civilização ocidental pautada no olhar destaca a imagem cada vez mais e parece ofuscar o exercício da palavra. Para que informações sejam veiculadas o mais rapidamente possível, vê-se o texto ameaçado pelo constante limite de expressão. Entretanto, não se pode esquecer que a imagem é substantivo  adjetivá-la é a feliz tarefa da palavra.
                          Escritores ao longo dos anos teem buscado mesclar ao sentido da visão odores e sons muito marcantes proporcionando aos leitores o mergulho num mundo onde o imaginário artístico completa a vida. Os discursos multicoloridos revelam nuances, ambiguidades não percebidas ou solucionadas no cotidiano porque tuteladas, por imposição, pela representação plástica. A palavra liberta o olhar que a imagem dirige; torna-o transitivo. A parceria entre as duas traz para uma mesma cena uma gama de interpretações, porque o discurso está sempre se ultrapassando. O indivíduo, se só exposto à profusão de imagens pode, aturdido, abrir mão do encantamento da descoberta e não realizar todo o potencial a que é chamado dia-a-dia.
                        O texto tem uma forma humana, sua linguagem vem revestida de pele e, por isso, o prazer advindo da leitura nunca se esgotará. Ao contrário, ao lado, da mais alta tecnologia está o fascínio despertado pelo livro quando do toque nas folhas de papel, ao virar das páginas. A relação que se tem com as letras é física. O texto costurado, tecido, dá origem a inúmeras emoções, magicamente definidas. O poder e a força da palavra escrita nunca poderão fenecer, já que esta constitui resultado da necessidade intrínseca a todo indivíduo - comunicar sensações, tornando-as perenes. O equilíbrio que traz a palavra evita o entorpecimento dos outros sentidos,vestindo-os de uma eficiente função significativa e concedendo-lhe consistência. O corpo textual desafia a lógica, acorda a imaginação, convoca o belo e altera a mente dos homens e a cor das coisas. O agradável jogo estabelecdo entre autor e leitor provoca o deslocamento de qualquer pré-concepção e desencadeia um sentimento de deleite diante do mundo. A viagem a que a literatura convida liga o indivíduo a tudo que o cerca.
                       A imagem (na televisão, por exemplo) parece nos aproximar com propriedades estáveis e imediatamente perceptíveis quando, na verdade, a rapidez de sua veiculação a dilui e facilmente pode cair no esquecimento. A escrita  produz e desvenda seus próprios segredos, para iniciar-nos em outros. Juntas, no entanto, podem imprimir e eternizar um efeito, evitando, assim, o encapsulamento de uma ideia e mantendo os indivíduos comprometidos.
                       A atração pela palavra exclui, portanto, toda possibilidade de se tê-la suprimida. O direito à expressão adquirido quando do primeiro uso da escrita e, felizmente, irreversível. Mesmo numa era de intensos avançoes, o espaço do texto estará para sempre garantido pela memória de seus amantes.

4 comentários:

  1. Parabéns Stella pelo blog e pelo excelente texto "A palavra na era da imagem". Não foi a toa que conseguiu o primeiro lugar no Concurso de Redação para professores-Academia Brasileira de Letras!

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    1. Obrigada pela gentileza, Ana. Foi um tema prazeroso. Um abraço.

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  2. Oi Stella, parabéns pelo prêmio!
    Sim, como você diz o texto escrito estará sempre garantido pelos apaixonados pela literatura.
    Você exalta no texto o valor da palavra de uma forma muito especial.
    Bjs,
    Elisabeth de A. Pinto

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  3. Leitores como você fazem a força de quem ama a escrita como eu. Abraço.

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