terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Como ficcionalizei minha vida

            Ao longo dos anos, a leitura nutriu em mim a vontade de multiplicar-me. Duplicar aventuras, repetir bons momentos, arquitetar uma existência marcada pela diversidade.
         Assim, nasceram os Contos de um leitor voraz - coletânea de instantâneos que se iniciará com o ano de 2014.

         E o primeiro se apresenta.


        
Era um dia de outono – desses magníficos que indenizam da ausência da alegria do verão, bem ao gosto de Alexandre Dumas. Eu, necessitando de pausa na papelada do escritório, rendi-me ao chamamento da brisa suave, peguei o paletó e ganhei a rua. Que encantos me aguardariam agora que a imaginação libertara-se da tirania do espaço? Senti-me personagem e autor (ou seria um autor-personagem? Ora, que diferença fazia isso neste instante de liberdade? Tola digressão. Volto, então.).

Caminho lentamente pela frenética Avenida Rio Branco, destoando sensivelmente de todos os companheiros transeuntes que corriam com olhar preocupado e testa franzida. Divertia-me pensar que eu era diferente (pelo menos ali, no momento que escolhi eternizar!). Virei na Rua do Ouvidor; as vitrines coloridas e o barulho quase ensurdecedor dos vendedores ambulantes fizeram-me sentir o que devia sentir João do Rio (ou Paulo Barreto) quando se decidia por escrutinar a alma humana na rua: fascínio. Puro fascínio. Moças elegantemente vestidas paravam para experimentar peças e acessórios – como bolsas – estendidos nas calçadas lotadas. Distintos cavalheiros fumavam um ou dois cigarros enquanto vociferavam para alguém do outro lado d telefone celular. Outros ainda, de pé, degustavam o café fresquinho do bar. Busquei no bolso o caderno de notas que rapidamente escondera antes de sair (afinal, nunca se sabe quando uma boa história poderia surgir!). “Flanêur por um dia, percorro as ruas do centro do Rio de Janeiro em busca destes instantâneos que, fotografados pelas ágeis mãos de um escritor ou de um jornalista, alegram ou fazem meditar um leitor ávido de emoções.”. Bom começo de escrita. Fecho o caderno e deixo o lápis marcando a página já sulcada pelas letras ansiosas por aventura. À direita, um velho senhor esforçava-se com a voz chamando a atenção para uma apetitosa seleção de frutas frescas. Detive-me – o que o animou de pronto. Escolhi duas maçãs e uma laranja, enquanto o homem afiançava-me da qualidade do produto que vendia. Tinha no rosto cansado fisionomia suave, dessas que vem com a sabedoria dos anos passados em luta. Sorri-lhe e perguntei se vinha sempre para aquele ponto.

- Nem todo dia; as penas não permitem. Mas, o ponto é bom e à hora do almoço ou no fim da tarde, o movimento aumenta e o lucro também. Com a patroa doente, remédios caros, o trabalho duro oferece retorno, não é patrão?

- O que tem sua senhora, se me permite perguntar?

- Vai entender, patrão. Vez ou outra cai de tristeza na cama. A cabeça e os pés doem. Chora até dormir. Fica assim por uns três dias. Depois se levanta e enfrenta a lida como se dela não se tivesse afastado. O médico disse que é melancolia; receitou umas pílulas que a fazem dormir mais calmamente. Olha a fruta fresca! Bem fresca para o lanche! Desculpe, patrão. Os jovens conseguem freguesia porque oferecem eletrônicos, brincos, colares que as moças gostam. Só sei de frutas e elas me deram sustento até hoje. Não mudo não.

- O senhor acha a vida de hoje melhor do que a de alguns anos atrás?

- Difícil dizer. O progresso ajudou muito. Mas, sinto falta da camaradagem, sabe? Não sei se o patrão entende.  Aquela prosa com os amigos. Hoje, o pessoal anda sem tempo. Um parece que não vê o outro. Bem, patrão, coisa de velho. Liga não.

- Gostei de conhecê-lo e espero levar mais de suas frutas num outro dia.

- Agradecido, patrão. Sempre a seu dispor. Uma boa tarde.

Deixei o vendedor. Peguei o caderno e escrevi: “A rua guarda em seu asfalto e em suas calçadas almas sensíveis ao sofrimento desconhecido do outro. A dor que cada um guarda e nem sabe foi descortinada por aquele vendedor. Ali. A dor de não ver o semelhante como um igual.”. Distraído, olhei para o relógio. Duas horas. Apressei o passo e me misturei na multidão.

 

 

 

 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A novidade é amar

   Conta uma dessas deliciosas histórias populares que alguns jovens discípulos de São João - o apóstolo que mais tempo viveu - perguntaram acerca de uma nova diretriz para as pregações dos dias que se seguiriam. São João disse: Amai-vos uns aos outros. Ora, disseram eles, isto não era novo. São João sorriu e afirmou: O amor é sempre novo.

É isso...para o novo ano desejo para todos nós mais amor.

Ainda um pouco de amor, na  literatura:


Love is life. All, everything that I understand, I understand only because I love. Everything is, everything exists, only because I love. Everything is united by it alone. Love is God, and to die means that I, a particle of love, shall return to the general and eternal source.
  War and Peace, Leo Tolstoy

sábado, 28 de dezembro de 2013

Para além do espelho- Natal



Deixo o tempo escondido

No espelho

Abraço a eternidade

Do recomeço

A luz talhada na alma

Modela fio a fio

A tapeçaria da esperança calma

 

Destemido, o espírito corre

Célere

Esqueço o passo cansado

A pequenina mão me aguarda

Prendo-a às minhas

Há muito ainda a fazer

 

O espelho franze e diz do não

Sorrio

Insisto no sim

Sim do nascimento do Menino

Sim da promessa do novo destino.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Oscar, Nietzsche e eu

            " Wilde: Desejara recriar vida de um modo que antes estava oculto; uma forma sonhada em dias de meditação. Acredito firmemente que poderia levá-los a perceber o engano por trás de uma opção interpretativa para as letras. Admito que a linguagem em meus textos impelia naturalmente a uma escolha...

            Nietzsche: Mas, o que quer que fosse escolhido seria inadequado, dado exatamente a ambiguidade que você desejava ver instalada."

                      (fragmento de Café literário com Wilde e Nietzsche)

   Com estes dois expoentes da literatura do século XIX aprendi a dar mais voz à letra.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

"CAFÉ LITERÁRIO COM WILDE E NIETZSCHE"


Caros amigos, a vocês que, com suas carinhosas visitas ao blog, me fortificam

na empreitada da escrita, tenho a alegria de apresentar meu livro

Café literário com Wilde e Nietzsche, publicado pela Scortecci Editora.



 
Caso queiram adquirir um exemplar ou presentear a um amigo, entre em contato comigo através do e-mail stella-f@ig.com.br. Tenho exemplares a preço de custo (R$15,00 com frete incluso).
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A vida imita a arte

                     Em Palavras para um novo milênio (um dos discursos reunidos no livro Eu não vim fazer um discurso), Gabriel Garcia Márquez, indagando da utilidade prática e continuidade dos inúmeros encontros de intelectuais que se sucedem ano após ano, comenta da intrigante Clemência Isaura.
                       Fundadora dos Jogos Florais de Toulouse, mais antigo dos encontros poéticos, "instaurado há seiscentos e sessenta anos", foi uma "mulher inteligente, empreendedora e bela", que nunca existiu. Continua o Nobel de Literatura dizendo  que "sua própria inexistência é uma prova a mais do poder criador da poesia, pois em Toulouse existe uma tumba de Clemência Isaura na igreja de Dourada e uma rua com seu nome e um monumento em sua memória.".
                        O que leva um grupo de trovadores a assumir uma personagem para a vida real? Seria esta musa imaginada a força que precisavam para que a escrita se perpetuasse? A simulação foi tão perfeita que os amantes da letra, certamente admiradores dos poetas, assumiram como verdadeira a existência de Clemência, elevando-a a patrimônio cultural a ser admirado e seguido.
                         Esta personagem de ficção trazida à vida é prova da irresistível vontade de continuidade histórica para a reunião destes homens e mulheres dedicados ao ofício misterioso e solitário da escrita

domingo, 8 de dezembro de 2013

Wilde e a beleza

“Beauty is a form of Genius — is higher, indeed, than Genius, as it needs no explanation. It is one of the great facts of the world, like sunlight, or springtime, or the reflection in the dark waters of that silver shell we call the moon. It cannot be questioned. It has divine right of sovereignty.”

O retrato de Dorian Gray

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A inutilidade do belo

   Confesso ter-me chocado a primeira vez que li a frase de Oscar Wilde para o prefácio de O Retrato de Dorian Gray .Ora, como poderia uma obra de arte ser inútil?! Meu olhar ainda trazia o vício de categorizar, de enquadrar que tanto os decadentistas repudiavam.
   O belo não precisa ter uma utilidade porque é essencial. A necessidade que temos de um dia  ensolarado, de uma brisa refrescante, de um jardim florido não se poderia contabilizar. O útil era, para os artistas de final de século XIX, o que a indústria estipulava e manipulava como necessário.
    Vivemos tempos em que há a tentação de esquecermos o essencial. É preciso observar a beleza das coisas sem tentar dar a elas um valor. São o que são; bonitas como são.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mudança

                                         Mudei
                             Joguei fora o que me diminuía
                             Abracei o que ilumina
                             Resisti à tristeza
                             Escolhi o encantamento
                             Mudei
                             Escrevo de mim
                             Assim conheço mais do outro
                             Mudei
                            

sábado, 30 de novembro de 2013

30 de novembro de 1900



                             Viveu muitas vidas

                          Experimentou inúmeras mortes

                          Personificou a letra

                          Imortalizou a ficção

                         

              Oscar Wilde deixou este mundo em 30 de novembro, no limiar de um novo século, preconizando as mudanças que viriam( mudanças estas que ele esperara ansiosamente). A todos os que puderam ler seus textos ofertou linhas de beleza e ironia singulares. Seus epigramas fazem-nos sorrir; seus contos fazem-nos chorar; suas peças arrancam divertidas gargalhadas. Atemporal, não deixa ninguém indiferente ao que escreveu. Suas linhas são, assim, reescritas no imaginário de cada leitor. E era exatamente este o seu desejo, acredito. Ser um e muitos.       

                         
                          

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pertença


  "That is the beauty of literature. You discover that your longings are universal. That you are not lonely or isolated from anyone. You belong.".       F. Scott Fitzgerald



Nos anos de leitura, aprendi muito de mim. Meus são os sonhos de muitas personagens cujo destino acompanhei; minhas foram suas lágrimas e seus sorrisos, suas decepções e suas vitórias. Cada ser humano é uma ilha. No entanto, surpreendentemente,trazemos em nós os mesmos desejos de realização. Somos muitos, somos um.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dia Nacional de Ação de Graças

                       Agradecer é um dom. Esquecemos, com frequência, do quanto um pequeno gesto de reconhecimento pode ser uma bênção para quem recebe e para nós mesmos. Agradecer alivia o coração, alarga o sorriso e faz esquecer as tribulações, mesmo que momentaneamente.
                       Hoje agradeço a Deus por minha vida, minha família e por todos os meus amigos, que com sua amorosa presença fazem com que eu queira ser a cada dia um pessoa melhor.
                       OBRIGADA!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Lembrando Tolstoi

    No dia 20 de novembro, lembrando a morte de Leon Tolstoi, abraçamos esta linda frase acalentadora:


          A arte é um dos meios que une os homens.


Que possamos ser arte, todos os dias....

domingo, 3 de novembro de 2013

Se...


IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with Kings - nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!



                                                                  Rudyard Kipling

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Conversando com Borges




                         "No deserto
             acontece a aurora.
             Alguém o sabe."




              Nossos esforços interiores na aposta pela alegria podem passar despercebidos para muitos. As batalhas, no entanto, são muitas e... silenciosas.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

os 'Milagres' de Whitman


 "Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
                                                                                     /amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insetos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.

Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.

O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?"


Por sugestão de Elisabeth Pinto, este presente de Walt Whitman

'Os Miseráveis', de Hugo



      " Fazer um poema da consciência humana, mas não a respeito de um só homem, e ainda dos homens o mais ínfimo, seria fundir todas as epopeias numa epopeia superior e definitiva. A consciência é o caos das quimeras, das ambições e das tentativas(...)é  o campo de batalha das paixões. Penetrai, a certas horas, através da face lívida de um ser humano, e olhai por trás dela, olhai nessa alma, olhai nessa obscuridade. Há ali, sob a superfície límpida do silêncio exterior, combates gigantes como em Homero, brigas de dragões e hidras, e nuvens de fantasmas, como em Milton(...)."

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

um santo pensador

                    Santo Agostinho foi um incansável estudioso da alma humana e a leitura de suas Confissões permite que conheçamos também mais um pouco de nós e da razão de termos vindo à vida.


                        "Dois homens olharam através das grades da prisão: um viu a lama, o outro as estrelas."

domingo, 27 de outubro de 2013

Uma tarde com Walt Whitman

                       "Aprendi que é suficiente estar com aqueles de quem gosto."

                      "Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim."



                 Visitar os textos clássicos é exercício de conhecimento de si e do mundo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

16 de outubro de 1854

 Há exatos 159 anos nascia Oscar Wilde na Irlanda e a cena literária ganharia um de seus mais devotados discípulos. Ele viveria da arte, pela arte e se eternizaria como texto.
 
Minha história com Wilde data de poucos trinta anos, quando ainda adolescente li pela primeira vez seus contos infantis. O rouxinol e a rosa - até hoje o meu favorito - arrancaria dolorosas lágrimas e aguçaria a curiosidade pelo autor que ousara imaginar algo tão singelo e profundo. Pois bem, a partir daí, nunca mais nos deixamos - Wilde e eu. Li e reli toda a sua obra e a cada vez me surpreendo com um detalhe que passara sem que eu percebesse, como que para obrigar-me a voltar.
 
Era um trocista e ainda troça comigo. Aceito, com deleite infantil, o jogo e ele me devolve o encantamento, acompanhando meus momentos alegres, tristes, tensos e relaxantes. A escrita wildiana para mim é isto- minha companhia querida.

                     

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ao mestre, com carinho

               Era pequena  de estatura, mas sua voz soava forte, clara, precisa, sem deixar de revelar sua delicadeza. Inês. Ensinava literatura brasileira e fazia-nos sonhar  que éramos heróis e heroínas prontos para conquistar o mundo. Da mesma forma que os inúmeros personagens que nos dava a conhecer. O tempo não passava com Inês e o sinal para troca de professores era sempre recebido com estridentes vaias - o que nos custava por vezes o recreio! E lá se ia Inês, deixando um rastro de alegria.
                Pergunto-me hoje se ela teria ideia de tudo que fez por nós. Talvez não. Aquele que semeia o bem parece não enxergar  por vezes o alcance de suas ações. Cabe a quem pelos frutos reconhece o valor de um bom professor fazê-lo.
                 Homenageio hoje cada  adorável Inês que fez minha vida mais bela e me encantou com sua persistência e doçura.

domingo, 29 de setembro de 2013

de W. H. Auden, para alguém querido e perdido



     "Stop all the clocks, cut off the telephone.
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum...

Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling in the sky the message He is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever, I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun.
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good."
--Funeral Blues

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Uma pérola de Antonino Pagliaro



  "Também palavras são uma espécie de conchas, às quais temos de encostar o ouvido com humilde atenção, se quisermos apreender a voz que dentro delas ressoa." (citado por Evanildo Bechara em sua Moderna Gramática Portuguesa).

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Como Anne Elliot

                    Oscar Wilde disse certa vez que ser-nos ia mais fácil dizer a verdade estando com uma máscara. Decidida a experimentar uma existência como a de uma personagem de Jane Austen, sentia-se impelida a ser o que sempre desejara. Segura de suas convicções, sem deixar a ternura de lado e sem a constante preocupação sobre como as outras pessoas a viam. Vivemos em uma sociedade em que os sentimentos e intimidades são perscrutados incessantemente, fronteiras do bom senso esquecidas. Agora, mascarada, escolhera esquecer-se disso e ser alegre e igualmente admirada ou desprezada, sem deixar-se abater. Anne, de Persuasão, não tinha a beleza e a influência familiar das irmãs, mas  (ou talvez exatamente por isso), sua personalidade se destacava pela força e pela sensibilidade. Invisível, tornara-se necessária pela doçura e afabilidade. Queria ser Anne e agora não se sentia à altura. O exercício de ser personagem cravara em seu corpo saudosas marcas de pureza e sinceridade infantis. Estava outra.

domingo, 1 de setembro de 2013

Crônica de uma amante literária

                    Acordou querendo ser outra. Porque não abraçar várias personagens num mesmo dia? Afina, acostumara-se a ler mais de dois livros por vezes - sempre buscando que a lista diminuísse. Esqueci de contar este detalhe . Tinha uma lista dos livros que não poderia deixar de ler durante sua existência. Precisava, assim, ler pelo menos dois ao mesmo tempo, senão não conseguiria. O pior é que acrescentava um a cada mês. Então, acordara desejando ser uma das heroínas de Jane Austen. E por que não duas? Precisava só de imaginação para unir suas favoritas: Anne (de Persuasão) e Elizabeth (de Orgulho e preconceito). Da primeira começaria por não se deixar persuadir de suas opiniões se pensasse estar certa e da segunda, as palavras espirituosas e firmes. Não parecia assim difícil. Amava o século XIX. Tudo parecia tão mais real - as relações, os sentimentos... O terceiro livro da cabeceira era A civilização do espetáculo, de Vargas Llosa. Percebia que o fluxo intenso de informações tornara tudo muito efêmero; parece não haver espaço para o pensamento e o exercício de digestão do novo. Os diálogos se tornaram mais rápidos, menos elaborados (se é que me entende). Por isso, amava os romances daquele século. As personagens sentavam ou caminhavam e conversavam. Estava decidida. Seria por um tempo esta conjugação das duas protagonistas favoritas. Será que haveria lugar para elas hoje? Conto depois o desenlace.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

No silêncio falante de Rubem Alves



  "O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você". A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção."    In: O AMOR QUE ACENDE A LUA)

Na escuta, no silêncio, ouvimos mais do mundo e de nós.

sábado, 24 de agosto de 2013

24 de agosto

    
                                             Habitante de singular biblioteca
                                        Labiríntico
                                        Observador flagrante
                                        Que vê na escuridão
                                        Escrutinador de almas
                                        Desvelando segredos
                                        Na escrita de metamorfose
                                        Propondo mistérios
                                        Amante da arte
                                        Apresenta
                                        Incessante convite para de-cisão
                                        Com sorriso de luz.


Para Jorge Luis Borges, que tendo nascido num especial 24 de agosto, me conquistou pela força do encantamento.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

um pouco de Wilde

              

 "Nunca viajo sem o meu diário. É preciso ter sempre algo extraordinário para ler no comboio.".

Sem comentários...

ainda Octavio Paz

      Lendo Os filhos do barro de Octavio Paz, tropeço neste fragmento que me desestabiliza:

"Dupla e vertiginosa sensação: o que acabou de acontecer já pertence ao mundo do imensamente distante e, ao mesmo tempo, a antiguidade milenar está infinitamente perto...Não digo, é claro, que hoje os anos e os dias transcorram mais depressa, e sim que transcorrem mais coisas neles. Transcorrem mais coisas e todas elas quase ao mesmo tempo, não uma atrás da outra, e sim, simultaneamente...".

   Esta sensação de que algo nos escapa a cada segundo pode ter um pouco com a tecnologia que traz informações e notícias no chamado 'tempo real' (expressão que sempre me intrigou bastante) e não nos permite a 'digestão' e meditação.

o instigante Octavio Paz

                     


 "Não é poeta aquele que não tenha sentido a tentação de destruir ou criar outra linguagem."

O querer dizer e não conseguir...a busca daquela palavra 'certa' que recolha todo o sentimento escondido...A luta do escritor é diária e apaixonante.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Diário de uma viajante

 Ao passar por Vilar Formoso, cidade fronteiriça entre a Portugal e Espanha, medito na arte de se estar na entrelinha., no entre-lugar. E como experimentamos diariamente as fronteiras entre a dor e a alegra, o amor e a raiva, a indiferença e a solidariedade. E ainda, como precisamos encontrar em nós aquele instante 'entre' que nos possibilita a vivência do equilíbrio. Diziam os avós "nem tanto ao mar nem tanto à terra". A virtude está nomeio, que, longe de significar incerteza, produz eficiente cisão. Assim, nas linhas da vida, buscamos traçados firmes e ternos, calorosos tornados de temperança. Mais uma fronteira ultrapassei. O Rio Douro me acompanha, de Portugal à Espanha. Não o mesmo rio, pois a cada olhar ele se metamorfoseia, como a brincar. Neste jogo, ingresso,divertida e sem temor.

sábado, 13 de julho de 2013

Manhã com Hilda Hilst


 " Lobos? São muitos.

Mas tu podes ainda

A palavra na língua

Aquietá-los.


Mortos? O mundo.

Mas podes acordá-lo

Sortilégio de vida

Na palavra escrita.


Lúcidos? São poucos.

Mas se farão milhares

Se à lucidez dos poucos

Te juntares.


Raros? Teus preclaros amigos.

E tu mesmo, raro.

Se nas coisas que digo

Acreditares."

A clareza de Clarice



"Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.".Clarice Lispector

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Com a palavra, João Cabral de Melo Neto



                       "Quando um rio corta, corta-se de vez
                        o discurso-rio que ele fazia;
                        cortado, a água s quebra em pedaços.
                        em poços de água, em água paralítica.
                        Em situação de poço, a água equivale
                        a uma palavra em situação dicionária:
                        isolada, estanque no poço dela mesma,
                        e porque assim estanque, estancada;
                        e mais: porque assim estancada, muda,
                        porque cortou-se a sintaxe do rio,
                        o fio de água por que ele discorria.

                        O curso de um rio, seu discursório,
                        chega raramente a se reatar de vez;
                        um rio precisa de muito fio de água
                        para refazer o fio antigo que o fez.
                        Salvo a grandiloquência de uma cheia
                        lhe impondo interina outra linguagem,
                        um rio precisa de muita água em fios
                        para que todos os poços se enfrasem:
                        se reatando, de um para outro poço,
                        em frases curtas, então frase e frase,
                        até a sentença-rio do discurso único
                        em que se tem voz a seca ele combate."



O transbordamento do desejo pela palavra. Aquela palavra que dirá de mim e do outro. Aquele conjunto de frases que alumiará meu discurso. . João Cabral me encanta e instiga. Sequestro a palavra e acabo dela refém.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Converso com João Ribeiro

   "O aspecto essencial da Beleza é não ser intelectualmente compreendida e não conter um só elemento de inteligência ou de razão. Pode ser explicada; podem-se perscrutar as leis secretas que a regem como todas as coisas: mas o senti-las não é matéria da ciência." (Páginas de Estética)


   É preciso aguçar a sensibilidade para aproveitar-se e deleitar-se de poesia.

Food for thought...com Lima Barreto

             "Eu tinha me esquecido de mim mesmo, tinha adquirido um grande desprezo pela opinião pública, que vê de soslaio, que vê como um criminoso um sujeito que passa pelo hospício, eu não tinha, eu não tinha mais ambições, nem esperanças de riqueza ou de posição: o meu pensamento era para a Humanidade toda, para a miséria, para o sofrimento, para os que sofrem, para os que todos amaldiçoam. E sofria honestamente por um sofrimento que ninguém podia adivinhar; eu tinha sido humilhado, e estava, a bem dizer, ainda sendo, eu andei sujo e imundo, mas eu sentia que interiormente eu resplandecia de bondade, de sonho de atingir a verdade, de amor pelos outros, de arrependimento dos meus erros e um desejo imenso de contribuir para que os outros fossem mais felizes do que eu, e procurava e sondava os mistérios de nossa natureza moral, uma vontade de descobrir nos nossos defeitos o seu núcleo primitivo de amor e de bondade.".


Em Recordações da Casa dos Mortos.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mais uma vez...Pessoa


 Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
... Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
 
                               

segunda-feira, 10 de junho de 2013

10 de junho,falecia Camões

                         
                                      "Vês aqui a grande Máquina do Mundo,
                           etérea e elemental, que fabricada
                           assim foi do Saber, alto e profundo,
                           que é sem princípio e meta limitada.
                           Quem cerca em derredor este rotundo
                           globo e sua superfície tão limada,
                           é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,
                           que a tanto o engenho humano não se estende."


               
                                                                             (Canto X, estrofe 80- Os Lusíadas)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

As cidades de Calvino II

             Nossa próxima parada é a cidade de Eudóxia, cuja marca é um grande tapete no qual figuram além do habitantes-personagens cada construção arquitetônica e cada situação diária vivida. O tapete fica à entrada. Marco Polo chama a atenção para o reflexo significativo das angústias e sonhos escondido em sua tessitura. Microcosmo do mundo, este tapete é o livro de memórias ideal, bem ao gosto de Lorde Henry Wotton, de retrato de Dorian Gray. O desenho no tapete se renova instante a instante, sem que os anteriores sejam apagados. Erros, acertos, alegrias e desventuras ficam gravados para sempre e, assim, a história da cidade.

domingo, 19 de maio de 2013

As cidades de Calvino

              O livro As cidades invisíveis, do cubano Italo Calvino,guia o leitor pelo instigante périplo de Marco Polo. Visitando diferentes cidades emissões diplomáticas, o veneziano descreve o que vê (ou o que pensa que vê) para o Imperador Kublai Khan que o ouve (ou pensa ouvir).
              As palavras, como fotografias captando os instantâneos dos lugares, encantam pela precisão no escrutínio dos anseios, alegrias e medos humanos. Cada cidade parece personificar sentimentos inerentes aos indivíduos em suas lutas.
               Hoje, visitamos Fedora, "metrópole de pedra cinzenta". Nela, cada habitante procurou um modo de transformá-la na cidade ideal. Daí, construía um modelo em miniatura numa esfera de vidro com alguma melhoria ou mudança que julgava necessária e as obras de arte ficavam no palácio da cidade. Assim, no atlas do império de Khan constava tanto a grande Fedora quanto as pequenas Fedoras encerradas nas esferas. "Agora Fedora transformou o palácio das esferas em museu: os habitantes o visitam, escolhem a cidade que correspondem aos seus desejos, contemplam-na imaginando-se refletidos(...)".
                 Até a próxima viagem...

domingo, 12 de maio de 2013

Escutando Shaw



             "Alguns homens veem as coisas como são, e dizem 'Por que?' Eu sonho com as  coisas que nunca foram e digo 'Por que não ?"      George Bernard Shaw


      Todo artista é um sonhador. A vida como ela é e como poderia ser é tema recorrente e necessário. Tema que dá sentido a seus dias.

Semeador


                                                  Joga a semente na terra
                                                  Os sulcos são aos poucos preenchidos

                                                  Nova escrita se delineia

                                                  A água inspiradora garante a produção
                                                  O sol da paixão traz o movimento

                                                  A letra corre faceira pela página

                                                  Um novo texto surge aos poucos
                                                  Ainda verde,
                                                  aguarda o tempo da colheita

                                                  A escrita madura é exercício de paciência
                                                  Como na natureza, precisa de tempo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Reinvento-me


                           Na dança da vida
                  Avanço
                  Recuo
                           Dois para lá, dois para cá
                           Crio e recrio
                           Direita, esquerda
                           Solto a voz
                  Abraço o silêncio
                            Para frente, para trás
                           Invento o instante
                  Imagino o real
                            Dois para lá, dois para cá
                           Acerto o compasso
                  Na dança da vida
                  Esqueço o fracasso

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O convite de Goethe



                                    "Luz, mais luz."    Johann Wolfgang von Goethe


                  Acender a luz da inteligência e viver a vida em toda a sua intensidade, assumindo seu papel, reescrevendo-o quando necessário, levantando após o tropeço, sorrindo em meio às lágrimas, fazendo-se brilhar mesmo diante da violência. Luz, mais e mais e mais luz!!

Saudades da amiga

                                       
                                           Sua cadeira foi novamente ocupada
                                           Seu lugar, porém
                                           Ali está

                                           Faz falta sua risada
                                           As frases de efeito
                                           A curiosidade quase infantil de aprender

                                           O calor de sua mão
                                           A minha ainda sente
                                           Sua voz de sabedoria
                                           Acompanha as decisões do dia a dia

                                           Faz falta sua risada
                                           As frases de efeito
                                           A curiosidade quase infantil de aprender

                                           Dá-me medo pensar
                                           Que posso esquecer
                                           E viver sem lembrar

                                           Faz falta sua risada
                                           O calor de sua mão

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Dia da Literatura Brasileira

                  A literatura é expressão de pensamentos e anseios. Ao longo dos anos, no mundo todo, a palavra escrita emoldura o interior coletivo de um povo, pelo transbordamento de histórias de amores, intrigas, dissabores, vitórias, venturas e desventuras.
                  A literatura brasileira contou com expoentes que, até os dias atuais, traduzem a vontade de mudança, progresso e valorização dos indivíduos. José de Alencar,  autor cujo nascimento marca a data de celebração da escrita brasileira, foi um desses homens que lutaram, pela palavra, por dias melhores.

Para o dia da LITERATURA BRASILEIRA


"O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.""José de Alencar
 
 
      O ilustre escritor aponta para este mesmo olhar interior que permite a ação no mundo exterior.

Visitando Jung



             " Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta".
           Carl Jung


 É preciso despertar a cada instante; perceber tudo em redor - as mudanças, as constâncias. Os olhos ficam, por vezes, obscurecidos pelas preocupações, daí,  visão interna ter papel primordial nas decisões e planejamentos.
           

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Uma carta, por Jane Austen

"I can listen no longer in silence. I must speak to you by such means as are within my reach. You pierce my soul. I am half agony, half hope. Tell me not that I am too late, that such precious feelings are gone for ever. I offer myself to you again with a heart even more your own than when you almost broke it, eight years and a half ago. Dare not say that man forgets sooner than woman, that his love has an earlier death. I have loved none but you. Unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant. You alone have brought me to Bath. For you alone, I think and plan. Have you not seen this? Can you fail to have understood my wishes? I had not waited even these ten days, could I have read your feelings, as I think you must have penetrated mine. I can hardly write. I am every instant hearing something which overpowers me. You sink your voice, but I can distinguish the tones of that voice when they would be lost on others. Too good, too excellent creature! You do us justice, indeed. You do believe that there is true attachment and constancy among men. Believe it to be most fervent, most undeviating, in F. W.

I must go, uncertain of my fate; but I shall return hither, or follow your party, as soon as possible. A word, a look, will be enough to decide whether I enter your father's house this evening or never.”


Persuasion


Esta é uma das minhas passagens favoritas de Jane Austen. Uma carta... muito bem escrita.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Delírio

                                     No livro retido na memória
                                     Transito,
                                     Levemente.

                                     Recuo e avanço
                                     Sem temor

                                     As páginas desérticas
                                     Serpenteiam,
                                     Suavemente.

                                     E eu sou mil
                                     De novo

                                     Tenho os arroubos do jovem
                                     E a serenidade do ancião
                                     Sei o tudo da juventude
                                     E o nada da maturidade

                                     Quero nada
                                     Alcanço a paz.
                 
 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Acerca do amor V - em mim

    O amor me move; teço meu  lugar no mundo nele e por ele. Nele me conheço e entendo o outro; por ele, me perdoo e tenho compaixão do outro. Por ele, enxergo a dor no outro, que também é minha. Nele venço com alegria as tribulações, testes da vida, e recomeço e teço mais uma vez um ponto de partida.

Acerca do amor IV

"É porque sou totalidade que sou capaz de colocar o outro no mundo e de me ver ser limitado por ele. Pois o milagre da percepção do outro reside primeiro no fato de que tudo o que pode valer como ser a meus olhos só ocorre tendo acesso (...) a meu campo, aparecendo no balanço de minha experiência, entrando em meu mundo, o que quer dizer que tudo o que é verdadeiro é meu, mas também que tudo o que é meu é verdadeiro e reivindica como sua testemunha não apenas eu mesmo no que tenho de limitado, mas também um outro(...)."  A prosa do mundo, Merleau-Ponty


    Quando assumo o roteiro de minha história, que é história de amor, o outro se insere e se encaixa perfeitamente como companheiro de jornada. Minha solidão recebe uma companhia e a experiência do mundo se torna mais rica; os olhares interagem e os sonhos se aproximam.

domingo, 21 de abril de 2013

Acerca do amor III- na Literatura



"O amor é realmente uma coisa maravilhosa. É mais precioso do que as esmeraldas e mais precioso que esplêndidas opalas. Pérolas e granadas não podem comprá-lo, porque não se acha exposto nos mercados(...)o Amor é mais sábio do que a Filosofia, ainda que esta o seja, e mais forte que o Poder, ainda que este o seja. Suas asas têm a cor de chamas e seu corpo cor de fogo. Seus lábios são doces como o mel e seu hálito é como incenso(...)" . Oscar Wilde- O rouxinol e a rosa- 1888

sábado, 20 de abril de 2013

Acerca do amor II

                            "O que é o amor", perguntou-lhe.
                             Sorriu, cansado.
                           "O que faz a beleza da vida."
                           "Huumm."
                           "Filha,olhe em volta e diga o que vê."
                           "Flores, alguns insetos, o sol, um ventinho gostoso..."
                           "Sente o vento, mas não o vê, não é?"
                           "Não."
                           "O amor é assim. Você o 'vê' na família, nos amigos, na natureza, em toda
                             a Criação."
                           "Em mim e em você?"
                           "Sempre."

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Acerca do amor

                 O filme Amor, de Michael Haneke, incentiva uma reflexão acerca deste sentimento que tantos tentaram definir, concentrando em algumas palavras, todo o seu esplendor. Este fogo que arde sem se ver tem sido escrito e cantado ao longo dos anos sem que sua força se esgote. Suas chamas prometem a todos os corações calor em meio à alegria ou sofrimento. A felicidade que ele traz é única e definitiva. Todos amam - crianças e adultos.
               Neste instante, o pensamento se detém no amor a si mesmo - condição essencial de sobrevivência. Amar a si mesmo é o início de uma linda história de amor, disse Oscar Wilde. Somos uma história de amor - de Deus, de nossos pais.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Merleau-Ponty...uma vez mais


 

" O artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais humanos o espetáculo de que participam.".

 Pelo acesso às obras artísticas, os olhos se abrem, as perspectivas se renovam e o indivíduo se torna mais solidário.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Tabuleiro

                                   Na alegria do jogo
                         O reflexo da criança esquecida
                         É metamorfose de mim

                         Os dados do destino
                         Deslizam
                         Numerando um caminho de sonho
                         Colando e descolando
                         Existências de magia
                         Ali
                         Naquele instante
                         No tabuleiro

O espelho



                                O espelho diz do outro
                             Não de mim
                             Diz do fim
                             Quando ainda sou começo
                             Diz do não
                             Quando insisto noutro sim
                             Diz do cansaço
                             Quando ainda há luta em mim

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...