quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal, amigos leitores

Renascimento da esperança. Esperança de novas realizações. Realizações que gerem alegria e paz. Alegria e paz que durem no novo ano. Novo ano de lutas e vitórias, trabalhos e descansos.
Que o Natal do Senhor Jesus inunde seus corações da mais viva alegria de ser na vida obra de arte.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Oscar Wilde é cult - a Arte como transgressão

        Rasgar fronteiras, desafiando com o corpo um estado de coisas conflitantes em relação à condição a que todo o indivíduo é 'chamado', tem sido o objetivo de diversas manifestações artísticas. Toda com um cunho político - no sentido amplo da palavra.
       Em A alma do homem sob o socialismo, Oscar Wilde tece considerações acerca de um regime de governo que, longe de impedir o crescimento pessoal, oferece formas de incentivá-lo. Diferentemente do que alguns acredita, pensamos que não fora intenção de Wilde a pura defesa do socialismo - associando-se às ações politicamente engajadas da mãe -, mas sim a defesa de uma condição política e econômica favorável, que trouxesse tranquilidade tal (com trabalho para todos, sistema de saúde e educação funcionando com qualidade) que qualquer indivíduo se sentisse como é; uma obra de arte, impelido à concretização do projeto que é a sua vida.
      Ora, este pensamento ' revolucionário' de finais de século XIX não estaria em relação direta com o desejo de tantos da contemporaneidade? As amarras que a necessidade de sobrevivência exige deixam em último plano o anseio por aquela suspensão do tempo, aquele momento de ócio em que o pensamento esteja livre para criar . Pensamos que isto seria uma proposta de 'des-governo'. Não precisar ser dirigido à busca de lucro exagerado bem estar social e econômico, preocupações com como parecer aos outros - tudo isto ainda parece acompanhar as noites de cansaço de muitos de nós. As ideias de Wilde desvelam a fagulha de um ideal que se quer amortecido. A Arte, no entanto, é chama, abrasadora. Chama, conclama, reclama.
      Oscar Wilde é cult.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Vítima inocente do destino

                              ?
                            Não!
                            Desertara, de fato!
                            Escolhera este labirinto eterno,
                            sem saída.
                            Livre,
                            sem amarras
                            E,
                            definitivamente,
                            preso.
                            Morreria, por certo.
                            No entanto,
                            poderia chegar a um oásis.
                            Buscara a solidão.
                            Primeira noite:
                            Mil pensamentos distraíram a mente.
                            O silêncio era convidativo,
                            atraente.
                            Que lua!
                            Segunda noite
                            Silêncio.
                            Lembrou de alguns versos;
                            abriu um livro.
                            Sim,
                            trouxera vários.
                            Uma luz nova sob o texto:
                             bela descoberta!
                            Silêncio.
                            Décima noite.
                            A cada texto trazia uma nova leitura.
                            Queria gritar!
                            Gritou,
                            ninguém ouviu,
                            ninguém respondeu,
                            ninguém soube!
                            Desertara!
                            Sentiu saudades sem saber de quê!
                            Chorou,
                            dormiu.
                            Vigésima quinta manhã.
                             Uma caravana!
                             Miragem?
                             Real!
                             Correu e ofereceu suas mãos para o trabalho.
                             Em troca de quê?
                             Só do som alegre das vozes das pessoas.
                             Alistara-se.
















sábado, 25 de outubro de 2014

Shakespeare e Wilde II

                               Em O crítico como artista  - texto primoroso - Wilde faz uma reflexão iluminada acerca da personagem Hamlet. Comentando a indecisão do jovem em vingar a morte do pai, Wilde diz que Hamlet nunca poderia cometer qualquer ato do tipo, já que era um homem do pensamento e não da ação. O fantasma do pai pedia a vingança. O que fazer então? Hamlet recorre à arte e encena todo o crime cometido pelo tio, e ali, na pele de um ator, encena sua vingança. A peça dentro da peça tem  efeito  catártico. O tio se sente acuado e a vingança se inicia sem que Hamlet tivesse que tomar a iniciativa sangrenta de pronto.
                              Wilde mostra como a criatividade do bardo celebrou nesta cena a força da obra artística.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

160 anos do nascimento de Oscar Wilde

                      Num 16 de outubro, provavelmente um dia comum, de sol ou tempo nublado, na Irlanda florida ou não, numa hora com muita ou pouca gente nas ruas, logo cedo ou à tarde nasceu um dos maiores expoentes da literatura em língua inglesa - Oscar Wilde. E a escrita ganhou contornos paradoxais, irônicos, de uma leveza e profundidades desconcertantes
                      Li  pela primeira vez um texto seu na adolescência - O rouxinol e a rosa - e me encantei com o bordado das palavras, tecidas cuidadosamente para assombrar. Não parei mais.
                       De 2002 à 2009, no Mestrado e Doutorado, sua obra completa foi companheira de cabeceira, finais de semana, viagens e sonhos (sonhei certa vez que conversávamos no sofá de minha casa). Wilde fez e faz parte de minha vida e sua escrita de sangue - diria Nietzsche - marcou para sempre os meus dias.
                       Escolhi hoje esta frase divertida e repleta da ironia que só ele podia imprimir na pena


“I am so clever that sometimes I don't understand a single word of what I am saying.”
― em "The Happy Prince and Other Stories


                           Saudades, Oscar!

sábado, 11 de outubro de 2014

Quando Shakespeare e Wilde se encontram - parte I

                                      Quando em uma cena de Romeu e Julieta, o protagonista apaixonado se declara encantado com a jovem no baile, o amigo, receoso revela que os sobrenomes não permitiriam avanço na relação. Diz, então, Romeu: "What's in a name? A rose by any other name would smell as sweet?". O jovem , na voz do sábio bardo, nos indaga da importância de nomear para possuir ou controlar. Oscar Wilde diz que " definir é limitar". O que os autores geniais de séculos diferenres têm a nos dizer hoje é o tema das próximas postagens.

domingo, 28 de setembro de 2014

Somerset Maugham para hoje

 
É incrível como deixamos de fazer o óbvio em nome da vontade de estarmos sempre certos.
Disse-me certa vez um amigo que se recorrêssemos com mais frequência à literatura os consultórios dos terapeutas e psicólogos se esvaziariam. Os artistas falam de nós, de nossa vida, de nossos anseios e receios. Parecem saber dos diálogos que travamos dentro de nós e que entorpecem a alegria da existência.
Para hoje, escolho todos os sessenta segundos felizes que não se repetirão. Só haverá um 28 de setembro de 2014 e ele é de paz.
 

domingo, 7 de setembro de 2014

Quixote para um domingo de sol

"A riqueza, não se mede pelos bens que se possui, mas sim pelo bem que se faz."


Lição de Miguel de Cervantes que parece fácil e óbvia, mas que deve ser sempre lembrada. de

domingo, 31 de agosto de 2014

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Encontro de mim

Eu me perdi de mim
Numa dessas esquinas sem dó
E aceitei por destino
Não ter pouso
Sem medo de estar só

Sem expectativas
Caminho como que para lugar nenhum
Conheci gente como nunca vi
Olhos cerrados que tinha
Agora vêem além do comum

O passo é lento
No compasso de um tempo outro
Novo
Sem cansaço

Sorriso largo
Sigo sempre em frente
E...
Surpresa
Eis meu verdadeiro eu

domingo, 24 de agosto de 2014

BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO: CAFÉ LITERÁRIO, UM SUCESSO!

Amigos, agradeço a torcida e a presença dos amigos que partilham desta alegria comigo. Abaixo, fotos do evento.







Uma alegria!

Conto de um leitor viajante – Stella Maria Ferreira


PLC-2014-PROSA / 1º lugar – contos avulsos
Conto de um leitor viajante
As férias chegaram. De tão cansado, não planejara absolutamente nenhuma atividade. A ideia do deslocamento, no entanto, me perseguia há cerca de uma semana. Lembrei de Baudelaire e de sua visceral necessidade de estar onde não estava, de viajar para os lugares mais distantes, de geograficamente esquivar-se de pensamentos que naquele instante de repouso pareciam ameaçadores. Estava inquieto. Não que isso fosse estranho. Eu era naturalmente inquieto. Seriam os livros que sempre tinha à mão? Era o que a mãe repetira por toda a minha adolescência. Dizia que estava sempre ‘no mundo da lua’. Eu me irritava e gritava que era poeta das idas e vindas; era artista. Ela ficava ainda mais nervosa. Era o feijão…e eu, o sonho. E sonho ‘não se colocava na mesa’, dizia. É…hoje trabalho num escritório de advocacia e a poesia ficou de lado. Momentos de inquietação como os desta manhã, porém, lembravam-me de mim. Antes. Quando tudo era poesia e eu me deslocava om facilidade para onde queria em minha mente. Peguei o caderno de anotações que estava na cabeceira e escrevi: “Escapar para me encontrar. Viajar para saber de mim.”.
Troquei de roupa. `A saída, o porteiro me perguntou algo sobre meu retorno – haveria manutenção do sistema de gás naquela tarde. Desculpei-me dizendo ser difícil marcar o horário da volta. Pediria uma outra visita para o apartamento se houvesse desencontro. Como saberia da volta se não sabia para onde iria? Queria a poesia da incerteza, a rima do desengano, o verso do talvez. Não sentia receio algum. Queria respirar aquele ar amorosamente artístico uma vez mais.
Era um barzinho simpático. Pedi café e biscoitos enquanto lia algumas dezenas de prospectos de viagens, passeios e produtos à venda colecionados ao longo do ano. A ilha parecia convidativa. Sorri ao lembrar de Alan de Botton e a descrição de suas férias numa ilha paradisíaca em A arte de viajar. Não seria uma má ideia fugir para outros ares. O aroma do café fez com que eu fechasse os olhos e, então, lá estava eu chegando na ilha. As malas sendo trazidas para o imenso quarto.
Uma porta dava saída direto para uma linda praia. Sentei-me na areia morna. O som alto das gaivotas, que pareciam brincar, era encantador e repousante. O vento assobiava o texto que eu ansiava escrever. “A nota da vida incompleta aguarda o acorde na dependência do próximo passo. A força de ousar. Sem a escolha de parar. Sem o medo no olhar. A carne na pena. O sangue na tinta. Poesia pronta.”.
Abri os olhos e o caderno de notas estava na minha frente, sobre a mesa do barzinho e as palavras que eu ouvira na ilha do panfleto ali escritas. A arte me encontrara. A procura durara anos e ela foi perseverante e fiel.
Fui para casa. O porteiro perguntou-me se o passeio fora bom e eu disse ter sido a melhor viagem da minha vida. O Des Esseintes de Huysmans sentado num café viajou para Londres. E eu, para uma ilha. Pares na arte. Pares na vida.
Síntese biográfica:
Stella Maria Ferreira é Mestre e Doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ. Conta com cinco artigos publicados em livros; uma resenha publicada na Revista ‘Poesia Sempre’ da Fundação Biblioteca Nacional e um livro recentemente publicado, intitulado ‘Café literário com Wilde e Nietzsche’. Atua como professora de Inglês na Rede Municipal do Rio de Janeiro.

24 de agosto- data do nascimento de Borges

"Longe um trinado.
O rouxinol não sabe
que te consola.".


                     Jorge Luis Borges nasceu em 24 de agosto de  1899 e as palavras tomaram um tom novo, mágico. Este também foi o dia emblematicamente escolhido por mim em 2004 para apresentar minha dissertação de Mestrado.
                      O texto borgiano sempre teve em mim um efeito de inquietação e quando li, na pesquisa, que ele se hospedara no mesmo quarto de Hotel em Paris onde Oscar Wilde morreu soube que diante de mim estava a escrita de alguém singular. Seu texto consola, move, comove, surpreende, arrebata.
                      Mais um pouco dele:
 
"Calam-se as cordas.
A música sabia
o que eu sinto.'.
 
                     

domingo, 17 de agosto de 2014

Conselhos de Fernando Pessoa

Conselhos de Vida
         

1 - Faça o menos possível de confidências. Melhor não as fazer, mas, se fizer alguma, faça com que sejam falsas ou vagas.
2 - Sonhe tão pouco quanto possível, excepto quando o objectivo directo do sonho seja um poema ou produto literário. Estude e trabalhe.
3 - Tente e seja tão sóbrio quanto possível, antecipando a sobriedade do corpo com a sobriedade do espírito.
4 - Seja agradável apenas para agradar, e não para abrir a sua mente ou discutir abertamente com aqueles que estão presos à vida interior do espírito.
5 - Cultive a concentração, tempere a vontade, torne-se uma força ao pensar de forma tão pessoal quanto possível, que na realidade você é uma força.
6 - Considere quão poucos são os amigos reais que tem, porque poucas pessoas estão aptas a serem amigas de alguém. Tente seduzir pelo conteúdo do seu silêncio.
7 - Aprenda a ser expedito nas pequenas coisas, nas coisas usuais da vida mundana, da vida em casa, de maneira que elas não o afastem de você.
8 - Organize a sua vida como um trabalho literário, tornando-a tão única quanto possível.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Père Lachaise*

                         
                        A esfinge, descansada, guardava a personagem que ganhara vida e jazia, agora, ali, inerte,
                        "Conheça-te a ti mesmo", sussurra. "A personagem conheceu, na arte da dor, o valor da vida. Vai tu e consolida o sonho do texto."
                        As folhas das árvores pareciam bater palmas. Fotografei o momento da imaginação convidando para o real transformado pela escrita. O real impregnado de Arte. O real do contra-senso, do paradoxal. O meu real, agora.



                         Com uma singela homenagem a meu escritor favorito, cumprimento a todos os que, chamados para a dança com as palavras, abraçam carinhosamente seus leitores nas linhas dos textos.
                          FELIZ DIA DO ESCRITOR!!!




*Cemitério, em Paris, onde foi enterrado Oscar Wilde.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Suassuna

"Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.".
 
 
                       Ariano Suassuna mesclou alegria e crítica como poucos e trouxe um frescor à literatura brasileira que persistirá em textos verdadeiramente artísticos. A delicadeza de 'O auto da Compadecida' faz uma homenagem a um povo lutador que tropeça e retorna inúmeras vezes para o caminho, sempre na esperança de dias melhores.
                       Quaisquer palavras ditas ou escritas sobre um autor como ele não dariam conta da influência na vida de tantos leitores. Por isso, não me estenderei e deixarei nossa especial palavra, única, portuguesa: SAUDADE!

sábado, 12 de julho de 2014

Celebrando o aniversário de Neruda...Saudade

Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...
Pablo Neruda, in "Crepusculário"

Ainda Hugo Mãe

poema sobre o amor eterno

inventaram um amor eterno. trouxeram-no em braços para o meio das pessoas e ali ficou, à espera que lhe falassem. mas ninguém entendeu a necessidade de sedução. pouco a pouco, as pessoas voltaram a casa convictas de que seria falso alarme, e o amor eterno tombou no chão. não estava desesperado, nada do que é eterno tem pressa, estava só surpreso. um dia, do outro lado da vida, trouxeram um animal de duzentos metros e mil bocas e, por ocupar muito espaço, o amor eterno deslizou para fora da praça. ficou muito discreto, algo sujo. foi como um louco o viu e acreditou nas suas intenções. carregou-o para dentro do seu coração, fugindo no exacto momento em que o animal de duzentos metros e mil bocas se preparava para o devorar
valter hugo mãe, in 'contabilidade'

sábado, 5 de julho de 2014

Hugo Mãe e a desumanização

                        Por vezes, alguns livros levam o leitor a nocaute. Assim foi comigo e 'A desumanização' de Valter Hugo Mãe. Partindo do cenário frio da Islândia, ele acompanha a poética  trajetória de Halla, após a morte da irmã gêmea. As palavras têm uma beleza plástica que conquistam e emocionam. Abaixo, um trecho:

"A beleza é sempre alguém,no sentido em que ela se concretiza apenas pela expectativa da reunião com o outro." (p.42)

sábado, 24 de maio de 2014

Ser


                                                No silêncio do dia que declina
                                           Reclino a cabeça e penso
                                           Existo mesmo
                                           Meu corpo está ali
                                           Percebo a respiração e a dança do sangue nas veias
                                      
                                           Corro os olhos na noite
                                           Revelação de mim
                                           Declino o convite ao medo 
                                           Existo.                 

Food for thought- special

                  Os clássicos revelam ainda muito de nós. Algumas das célebres frases proferidas por escritores que são hoje e sempre modelos de pensamento.

NÃO VEMOS AS COISAS COMO ELAS SÃO, MAS COMO NÓS SOMOS.            Anaïs Nin

EM TEMPOS DE EMBUSTES UNIVERSAIS, DIZER A VERDADE SE TORNA UM ATO REVOLUCIONÁRIO.           George Orwell

QUEM QUER FLORES DEPOIS DE MORTO?           J.D. Salinger

QUAL A TAREFA MAIS DIFÍCIL DO MUNDO?  PENSAR.        Ralph Waldo Emerson

RESPIREI FUNDO E ESCUTEI O VELHO E ORGULHOSO SOM DO MEU CORAÇÃO. EU SOU, EU SOU, EU SOU.              Sylvia Plath

DEVEMOS JULGAR UM HOMEM MAIS POR SUAS PERGUNTAS DO QUE PELAS RESPOSTAS.            Voltaire

sábado, 17 de maio de 2014

William Blake's tenderness

                                                      INFANT JOY

'I have no name;
I am but two days old.'
What shall I call thee?
'I happy am,
Joy is my name.'
Sweet joy befall thee!

Pretty joy!
Sweet joy, but two days old.
Sweet joy I call thee:
Thou dost smile,
I sing the while;
Sweet joy befall thee!

terça-feira, 13 de maio de 2014

a delicadeza de Victor Hugo

"Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos.".



"Homem ao mar!
Que importa! O navio não pára. O vento é suave, e o navio tem rumo a seguir. Portanto, avante.
O homem que caiu ao mar desaparece, torna a aparecer, mergulha, sobe a superfície; grita; ninguém o ouve. O navio, estremecendo com a violência do furacão, vai todo entregue à manobra; os marinheiros e passageiros nem mesmo vêem o homem submergido; a mísera cabeça do infeliz é apenas um ponto na enormidade das vagas.
São desesperados os gritos que o desgraçado solta das profundezas. Que espectro aquela vela que se afasta! Comtempla-a, vê-a convés com os companheiros; pouco ainda antes, vivia. Que teria, pois acontecido? Escorregara, caiu; acabou-se.
Debate-se nas águas monstruosas; debaixo dos pés tudo lhe foge e se desloca. As ondas revoltadas e retalhadas pelo vento rodeiam-no, medonhas, os rolos do abismo arrebatam-no, a plebe das vagas cospe-lhe às faces, e confusas aberturas quase o devoram; cada vez que afunda entrevê precípicios tenebrosos; sente presos os pés por desconhecidas e horrendas vegetações; as ondas arremessam-se umas contra as outras, bebe a amargura, o oceano convarde empenha-se em afogá-lo, a imensidade diverte-se com a sua agonia.
O homem mesmo assim, luta.
Diligencia defende-se, intenta suster-se, emprega todos os esforços, consegue nadar. Ele, força perecível, de repente, exausto, combate a força que é inesgotável.
Onde está o navio? Muito longe. Mal se avista nas lívidas sombras do horizonte.
O mar é inexorável noite social, onde a penalidade lança os condenados. O mar é a miséria imensurável.
A alma, em tal báratro, pode tornar-se cadáver. Quem a ressucitará?". (de 'Os miseráveis')


Victor Hugo foi um grande observador do espírito humano e um delicado tradutor dos sentimentos dos menos favorecidos, dos esquecidos, daqueles que não tinha voz.

sábado, 10 de maio de 2014

Oscar Wilde, witty

"I'm so clever that sometimes I don't understand a single word of what I am saying." 


"To love oneself is the beginning of a lifelong romance."

terça-feira, 29 de abril de 2014

A lição do silêncio

                          São muitas as vozes; ruídos se multiplicam. No labiríntico cotidiano de sons, diluímos nossas emoções, sem tempo para meditar. Como se o tempo não tivesse sido nossa invenção e, por isso, não tivéssemos sobre ele controle. No entre lugar, naquela fresta, naquele sulco jaz o silêncio de que precisamos, às vezes sem saber. Refugio-me ali, agora, por um instante. Aí, então, o silêncio ainda me diz que sou arte; que escrevo de mim todos os dias. São linhas tortas ou retas, firmes ou vacilantes, mas...tudo de mim. O silêncio me lembra a que fui chamada, me lembra de minha constituição real. Sou obra de arte.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Ao amigo poeta

                                   Fernando Fiorese surpreende ao tirar do cotidiano aquele encantamento primevo. Dos poemas ao recente 'Breviário' suas palavras arrebatam e o leitor se rende sem receio. Seus textos evocam aquela lembrança de infância, aquele sonho feito e refeito, aquele dia que foi noite e foi luz de novo, da crua realidade do mundo, da magia do texto.
                                   Em www.corpoportatil.blogspot.com, a leitura é fluida e imperdível. Vale conferir.
                                  

23 de abril - nasce o Bardo

                             William Shakespeare revolucionou para sempre o mundo das letras. Sua visão do mundo - exterior e interior de cada um - encanta e inspira gerações diversas. Amor, vingança, lealdade, traição, coragem, dúvida, tragédia, comédia - tudo ali condensado na tinta da pena.
                              Uma lembrança carinhosa e saudosa em algumas de suas linhas:

"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.".


"A alegria evita mil males e prolonga a vida.".


"É um amor pobre aquele que se pode medir.".

Para o dia mundial do livro

                         Tenho uma relação visceral com os livros. Tê-los por perto me agrada e acalma. A leitura à noite, após um dia de trabalho, traz de volta o gosto pelo irreal, pelo imaginativo que me move. Descanso nas páginas de um livro como alguns numa rede. Há um silêncio receptivo em mim para tudo o que ele tem a dizer. Dizer do mundo - do meu, interior e do outro em que transito. As letras brincam de adivinha e descobrem meus projetos, meus sonhos e minhas dúvidas. As palavras choram e gargalham comigo. Nessa tessitura passo os meus dias, alçando-me cada vez mais, sempre em busca, sempre a caminho.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Sem García, na solidão

                                Hoje, dia 17 de abril de 2014, o mundo das letras, da fantasia, da imaginação criativa está mais triste com  a  morte de Gabriel García Marquez.
                                Cem anos de solidão foi uma das experiências de  leitura mais intensa que tive. Anos de sonhos, desfeitos ou não, de amores, de sabores estão condensados em poucas páginas. Uma grande obra tem este efeito, acredito.
                                Ter convivido com seus escritos me alegra. A tristeza vem de saber que suas mãos não desenharão mais os mistérios do coração humano. Ler e reler García Marquez para que as palavras tenham o toque de eternidade.

sábado, 12 de abril de 2014

Meditação

                                                       Sinto, logo existo
                                                       Porque sinto e choro
                                                       Existo
                                                       Estou na risada, também
                                                       Porque existo, entendo
                                                       Que a vida passa rápido
                                                       Que a gente coleciona horas e minutos
                                                       Que não há tempo a perder
                                                       Porque entendo, existo
                                                       Que os amigos são bens
                                                       Que a família é dom
                                                       Que a fé é minha essência.

domingo, 6 de abril de 2014

Abril, mês de Shakespeare






"This life, which had been the tomb of his virtue and of his honour, is but a walking shadow; a poor player, that struts and frets his hour upon stage, and then is heard no more: it is a tale told by na idiot., full of sound and fury, signifying nothing."

Macbeth



A peça mais sombria de Shakespeare: repleta de intrigas, maus agouros, vingança. No entanto, linhas que descortinam o interior obscuro do ser humano se descortinam à frente de leitores deslumbrados.
 

 


domingo, 30 de março de 2014

161 anos do nascimento de Vincent Van Gogh

                         Escritor de cores, Van Gogh coloriu e colore ainda as noites com admiráveis estrelas de genialidade. Visionário, incompreendido por sua geração, permitiu às futuras um olhar outro sobre a natureza. Uma vida dedicada à arte. Escrita de sangue.

sábado, 29 de março de 2014

Arrebatamento

                    A poesia em si carrega um encantamento que seduz. Seu canto de sereia arrebata e a rendição é certa.
                    As linhas de Mosaico Primevo, de Abílio Pacheco, transportam o leitor para este mundo outro. Interior? De fantasia? Não sei. Só sei que ao deixar-me transportar descobri mais um pouco de mim. De meus sonhos esquecidos; de meus sentimentos reprimidos. Ótima dica de leitura.

domingo, 23 de março de 2014

Tarde com Foucault

                   "Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. Não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la."


Estamos para a liberdade. Por vezes, insistimos na escravidão - de nossos sonhos, reais vontades de bem, desejos de fraternidade e comunhão.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Ainda o dia internacional da poesia

AUSÊNCIA
                  por Carlos Drummond de Andrade


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



Aos poetas somos devedores. Eles, como ninguém, descortinam nossos segredos e nos fazer saber mais de nós.


Dia internacional da Poesia

                                                               HÉLAS
To drift with every passion till my soul
Is a stringed lute on which all winds can play,
Is it for this that I have given away
Mine ancient wisdom, and austere control?
Methinks my life is a twice-written scroll
Scrawled over on some boyish holiday
With idle songs for pipe and virelay,
Which do but mar the secret of the whole.
Surely there was a time I might have trod
The sunlit heights, and from life's dissonance
Struck one clear chord to reach the ears of God.
Is that time dead?  lo! with a little rod
I did but touch the honey of romance—
And must I lose a soul's inheritance?

Oscar Wilde

sábado, 8 de março de 2014

Uma história da Morte que fala da vida

                      Não gosto de best sellers. Rendi-me, no entanto à encantadora fantasia  de uma história contada pela Morte. E, 'A menina  que roubava livros', Markus Zusak consegue que o tema recorrente da Segunda Guerra ganhe cores inéditas nas palavras daquela que traz em si o matiz da escuridão. "Os seres humanos me assombram", diz Ela. "Em especial, os sobreviventes". Assim, Ela começa por contar de Liesel, uma menina alemã que com Ela se encontra três vezes, enquanto passa por um dos períodos mais críticos da História da Humanidade. Ela cresce perdendo irmão, e mais tarde, pai e mãe adotivos e o melhor amigo. Com o "coração cansado", mas estranhamente esperançoso graças à força das palavras, ela resiste tendo como companheiros sempre fiéis os livros que no decorrer da história rouba. Mais do que falar deste livro, recomendo a aventura da leitura. Zusak 'roubou' de mim dois dias e fiquei feliz com o que 'perdi'.

domingo, 2 de março de 2014

Carnaval

                       O Carnaval é intrigante: alguns dias em que, suspenso o tempo, máscaras nunca antes pensadas no tempo 'real' se materializam e inúmeras personalidades se descolam das paredes da imaginação e ganham a rua. Ah...a rua - palco de venturas e desventuras; lugar democrático de encontro.
                       Que a alegria original do Carnaval não seja esquecida em nome de excessos.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A leveza de Victor Hugo

"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.".


"Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas.".

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Lembrando John Keats, no dia de sua morte

"If I should die," said I to myself, "I have left no immortal work behind me — nothing to make my friends proud of my memory — but I have loved the principle of beauty in all things, and if I had had time I would have made myself remembered." 
  John Keats

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Contos de um leitor voraz VI

                Sentou-se, afinal! Procurara este instante durante todo o dia. As inúmeras atividades que um final de mês na repartição exigia não permitiram pausa qualquer. Agora, no entanto, um silêncio aconchegante descera.
              "Estamos esperando você no restaurante", gritou o Haroldo. "Chego já", disse. Mentiu. queria ficar ali. Respirou profundamente, fechou os olhos e foi arremessado nas areias de uma praia. Era uma ilha. Seu corpo todo doía. Seus cabelos pareciam mais longos e a barba estava por fazer. Fechou rapidamente os olhos e, ao abri-los, estava na sala vazia de novo. Riu-se, divertido. Fechou e abriu os olhos várias outras vezes, só que em intervalos maiores, aproveitando a prazerosa sensação de estar numa praia aparentemente deserta. Seria mesmo? Precisava conferir. Caminhou bastante e nem sinal de outros seres humanos. Teve fome. Avistou uma bananeira e fartou-se. Pensou em recolher gravetos e galhos para a fogueira da noite. A praia parecia ideal; a floresta poderia ainda esconder perigos, já que não a explorara.
                 A noite caiu e uma sensação de liberdade o abraçou até que adormecesse. Quando acordou, ainda estava na ilha. Abrira os olhos. Tinha feito a escolha certa.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Palavras

"W: Você é um mestre no manuseio da palavras. A dança que você promove constantemente é fascinante.

N: Palavras são sinais sonoros para conceitos. Porém, os conceitos são sinais - imagens mais ou menos bem definidas para sensações, grupos de sensações que se repetem e se juntam frequentemente. Para nosso bom entendimento não basta empregar as mesmas palavras. Devemos empregar a mesma palavra também para nos referirmos ao mesmo gênero de vivência íntima; devemos, enfim, ter uma experiência comum com o outro."

(Café literário com Wilde e Nietzsche,p.33)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A poesia, por T.S. Eliot

"Poetry is not a turning loose of emotion, but an escape from emotion; it is not the expression of personality, but an escape from personality. But, of course, only those who have personality and emotions know what it means to want to escape from these things.".

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A casa de Lobato

"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.".  



E não é que conseguiu? Morei nesta casa de Monteiro Lobato por muitos anos de minha infância.            

Hoje, Hemingway

"Todos os bons livros têm algo em comum - são mais verdadeiros do que se tivessem realmente acontecido.".

                Ernest Hemingway

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Austen em 'Persuasão'

'Muitas vezes perdemos a possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que então não agarrá-la toda de uma vez?'


'Devo ater-me a meu próprio estilo e seguir meu próprio caminho. E apesar de eu poder nunca mais ter sucesso deste modo, estou convencida de que falharia totalmente de qualquer outro.'

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Wilde e Nietzsche

  " W: (..)minha vida pertence à esfera da arte, não à esfera da ética ou da moralidade. Nada em nenhum momento, teve  realmente importância comparada com a Arte.

   N: Você queria ser 'lido', lentamente, com prudência e precaução, com segundas intenções, portas abertas, com dedos e olhos delicados(...)".

(Café literário com Wilde e Nietzsche, p.24)

Food for thought

"Suppose a man convince me of error and bring home to me that I am mistaken in thought or act, I shall be glad to alter; for the truth is what I pursue, and no one was ver injured by the truth, whreas he is injured who continues in his own self-deception and ignorance."

Marcus Aurelius (AD 180)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A alma, por Fernando Pessoa

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

O poeta, por Pessoa



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O colecionador - breve conto


                                 Coleciono lembranças. Acho que estou mesmo envelhecendo. São selos, miniaturas, fotos, canecas, chaveiros, relógios, tudo de minhas inúmeras viagens. Coleciono imagens gravadas nas retinas cansadas - como as de a Drummond. Tantas pessoas, lugares marcantes, coloridos que se misturam na memória - esta caixa surpreendente que guardamos em nós. Passo horas dos meus dias na companhia agradável das lembranças. Não me sinto só: convivo com muitos rostos, perfumes.
                              Sinto-me afortunado e, como Pablo Neruda, confesso que vivi.

30 de janeiro- dia da Saudade

                           Temos saudade de muitas coisas. Do que fomos quando crianças; do que poderíamos ter sido e, acredito, saudade do que ainda virá e logo será também passado.
                           Temos saudades das pessoas que se foram, coma as quais tivemos o privilégio e honra de conviver e aprender. Temos saudades antecipadas dos que com nós convivem no hoje.
                            Ouvi uma vez de um homem humilde em Belém a seguinte afirmação, que julguei perfeita: Saudade é a falta de algo ou alguém que nunca nos saiu do coração. Ele acreditava ser de um poeta famoso, mas não se lembrava do nome.
                             Tenho saudades da escrita que não fiz e até da que  fiz e já não pode mais me oferecer aquele impacto do processo de realização.
                             Saudade: palavra pequena e grandiosa.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

'Café literário'

CAFÉ LITERÁRIO COM WILDE E NIETZSCHE / Stella Maria Ferreira
Café literário com Wilde e Nietzsche é uma homenagem a dois expoentes do século XIX, cujos textos, repletos de uma incontestável paixão pela vida, evidenciam uma comunhão de ideias que prescindiu a leitura dos textos. Wilde não foi leitor de Nietzsche. Nietzsche não foi leitor de Wilde. O círculo que  os uniu, no entanto, extrapolou o limite das páginas, fazendo com que caminhassem juntos numa espiral que revolucionaria o pensamento artístico. O diálogo ficcional aqui desenhado passeia pela escrita determinante destes dois poetas da existência.

Stella Maria Ferreira é graduada em Português-Inglês, pela UFRJ, com Mestrado e Doutorado em Ciência da Literatura, pela UFRJ. Possui diversos artigos publicados em revistas eletrônicas e impressos pelo Departamento de Ciência da Literatura pela Faculdade de Letras da UFRJ. Autora de ensaios publicados nos seguintes livros: O labirinto finissecular e as ideias do esteta (2004), Dândis, estetas e sibaritas (2006), Corpos letrados, corpos viajantes (2007), Fulgurações (2009) e Faces rituais da poesia (2010); e da resenha Corpus errante na Revista Poesia Sempre (2009). Foi premiada com o primeiro lugar no Concurso de Redação para Professores pela Academia Brasileira de Letras e Folha Dirigida em 2005. Atualmente, atua no magistério do município do Rio de Janeiro.
Blog:
www.nateiadaliteratura.blogspot.com 

Serviço:
Café Literário com Wilde e Nietzsche
Stella Maria Ferreira
Scortecci Editora
Literatura
ISBN 978-85-366-3476-0
Formato 12 x 18 cm
52 páginas
1ª edição - 2013

Borges, uma vez mais

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a desvanecida
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Servem-nos, como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos em um momento.


As coisas

Virada

                                            Parou na esquina
                                            Pensava no lado a seguir
                                            Direita - progresso ou retrocesso
                                            Esquerda - alegria ou fantasia

                                            Parou na esquina
                                            Sentou-se
                                            Abriu o livro

                                            Esqueceu-se do porquê estava ali.

Uma manhã...Drummond

"Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.".


Que todos possamos escrever nossa história e ver as coisas sob diferentes prismas.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

'What's in a name?'

                      Em Romeu e Julieta', há a cena em que Romeo vê esta bela donzela pela primeira vez e se apaixona. Um amigo diz da rivalidade entre as famílias e que este amor seria impossível. Romeu, então, declara "What's in a name? A rose by any other name would smell as sweet.".
                      A necessidade de nomear as coisas é inerente ao ser humano. Quando não encontramos palavras que expressem nossos sentimentos ou pontos de vista de certa forma nos desequilibramos. O nome concede sentido e acalma por isso. No entanto, quantas não são as emoções para as quais não encontramos palavras, tristes ou alegres. Um sorriso ou uma lágrima traduzem melhor o que vai no coração. Uma rosa não seria mais bela ou teria um perfume mais marcante se tivesse um nome diferente. Shakespeare captou como ninguém o quanto nos importamos , às vezes, em nomear o que não tem nome. Mais uma vez, há a prova de uma obra imortal.
                     

201 anos de 'Orgulho e Preconceito'


                A primeira vez que li 'Orgulho e Preconceito' fiquei encantada com a fluidez da escrita desta surpreendente Jane Austen que quebrou padrões no século XIX para viver seu sonho e de seu sonho. Suas personagens femininas são fortes e não fogem de diálogos irônicos, repletos de sagacidade.

                Abaixo saborosos exemplos.


Elizabeth: Eu me pergunto quem descobriu o poder da poesia para espantar o amor.

 Darcy: Achei que fosse o alimento do amor.

 Elizabeth: Do amor belo e vigoroso. Mas se é apenas uma vaga inclinação, um pobre soneto o liquidará.


Darcy: - Em criança ensinaram-me o que era certo, mas não me ensinaram a corrigir meu gênio.

Grande Pessoa



" Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Contos de um leitor voraz V


Tinha de entregar uns papéis do último acordo do outro lado da cidade. Nunca ia lá – não é força de expressão; nunca ia lá mesmo! O gerente insistira para que eu usasse o caro da empresa, mas decidi pelo ônibus. As voltas que o transporte público dá possibilitam a um curioso como eu deleitar-se nas cores e imagens diversas. Estava quase chegando, eu pensava. Foi então que em uma das muitas curvas, entramos numa rua em que se enfileiravam construções antigas e muito similares aos cortiços de fins do século XIX. Dei o sinal para parada e desci, meio fascinado pelo lugar. Parecia que eu adentrava os domínios do João Romão. O cortiço de Aluísio Azevedo estava ali – as lavadeiras, os gritos, as risadas, um frenético desfile de aromas e sons. Encantadora aventura. O tempo cessara de exercitar-se em anos, horas e minutos e eu aproveitava esta dadivosa experiência. Meninos descalços lutavam com a ‘bola’ de lata, enquanto meninas em vestidos de chita, sentadas nos degraus dos casebres, brincavam com desbotadas bonecas de pano. Os olhos marejaram. O ritmo que minha vida adquirira, ou melhor, as escolhas que eu fizera deixaram no esquecimento a luta cotidiana de tantos.

Isto precisamente não se modificara. Algumas necessidades permaneciam as mesmas. E a necessidade maior – a da felicidade, da realização pessoal – ainda estava lá. Uma menina olhou-me e sorriu, tímida. Esticou-me a boneca e disse:

- É a Didi. Pode pegar.

Recebi-a nas mãos. Não tinha um olho, mas o semblante era incrivelmente real e aconchegante.

- Eu sabia que a Didi podia ajudá-lo. Está perdido?

- Não...Acho...Talvez...Penso que sim.

Ela sorriu, divertida.

- Leve a Didi. Ela ajuda você a encontrar...bem, a encontrar o que você quiser. Adeus.

Deixou-me em carreira. Instintivamente, abracei a boneca e parti. Ganhei a rua que parecia ser a de entrada do cortiço. Chamei um táxi. Entreguei os documentos no endereço pretendido. A boneca causara um certo estranhamento nos colegas, mas não me preocupei em explicar. Quando cheguei à casa, sentei-me olhando bem para Didi. Ela existia mesmo. No trajeto de volta ainda duvidara do ocorrido naquela tarde, mas Didi estava mesmo ali. Pensava agora nas enigmáticas palavras da menina. No que poderia Didi me ajudar? Eu não sabia que precisava de ajuda. Ou sabia? Olhava fixo para Didi – aquele sorriso desbotado me incomodava um pouco agora. Ela sabia que eu não estava satisfeito no trabalho. As longas horas no escritório e plantões nos finais de semana afastaram-me da família. Não via minha mãe há cerca de dois anos. Que saudade daquele cheiro de sua cozinha sempre cheia de guloseimas para quem chegasse. Havia recebido oferta de um amigo para trabalhar em uma empresa um pouco menor, mas com um horário atraentemente fixo. O sorriso de Didi pareceu-me mais nítido. Peguei o telefone. A suave voz emocionou-me.

- Mãe, sou eu.

- Filho, sabia que você ligaria. Tive um sonho estranho com uma menina esta noite...

- Conte-me amanhã. Vou vê-la, certo?

- Que bom?

Ela chorava muito. Despedi-me. Liguei para o Carlos e marquei entrevista para segunda-feira. Senti um alívio; estava leve mesmo. Olhei para a cadeira onde deixara Didi. Não estava mais lá. Não me espantei.

Contos de um leitor voraz IV


Acordei sobressaltado. Olhei o relógio: duas horas. Levantei e tomei um copo d’água. Sentei-me já quase certo da insônia. Ao menos duas vezes na semana era acometido deste mal. Hoje, porém, decido que farei disso um bem. Vesti-me rapidamente, pus o caderno de notas no bolso e saí. Ao passar pelo corredor, olhei de relance para o espelho. Meu rosto não parecia abatido. Muito pelo contrário, parecia que eu havia rejuvenescido.

A brisa agradável foi um alento para minha mente conturbada. Fiz sinal para um táxi e rumei para o centro da cidade. Os bares ainda estavam lotados e algumas pessoas dormiam nas calçadas. De modo geral, no entanto, o silêncio insistia em imperar. Dentro da noite, mais uma vez, lembrei-me de João do Rio e busquei escrutinar cada vela e recanto à procura – de quê não sabia ao certo; o tempo diria. Se mistério não houvesse, criaria. Afinal, em mim estavam histórias que pululavam no anseio por vida.

Senti que alguém me seguia; olhei para trás e percebi um vulto. Havia uma neblina estranha e só pude discernir o que parecia ser um chapéu. As batidas do coração aceleraram, assim como o meu passo. Tive dificuldades de caminhar por que a neblina se tornara densa, de súbito. Ainda conseguia ouvir os passos atrás de mim. Virei em duas ou três esquinas, sem saber mais onde estava; tinha perdido toda a referência. Senti uma vertigem e apoiei-me nas paredes e muros. Não podia mais. Parei e entreguei-me à sorte. O som dos passos tornou-se mais límpido. Senti a respiração do estranho próxima de mim.

- O senhor deixou cair este caderno ali atrás. Aqui está. Boa noite.

Sentei-me na calçada, permitindo que o suor descesse pelo rosto e corpo livremente. Tomei o caderno e escrevi: “Fui perseguido por meus medos e anseios. Estava envelhecendo e isso era assustador. Gostaria de ser jovem para sempre como Dorian Gray. Oscar Wilde havia penetrado minha noite – o tempo passara e eu me reconhecia finito.”.

Levantei-me e busquei um ponto de táxi. Ao chegar à casa, deitei na cama com a roupa que estava e dormi por dois dias inteiros. Quando acordei, havia vários recados na secretária eletrônica. Retornei todas as chamadas. Tomei um banho. A partir deste dia, nunca mais tive insônia.

 

Qual sua personagem favorita? II

O Rouxinol... O Rouxinol e a Rosa é um adorável conto infantil do querido Oscar Wilde. O pássaro tão cantado pelos poetas personifica um ve...